terça-feira, 30 de março de 2010

cosmogonia de arthur

3

baratas albinas sobre os corpos
boiam como o fogo-fátuo
e quando em pó convertida
a carne

o esqueleto branco
as baratinhas transparentes
suspensas entre o ilíaco
e a caverna da boca

singram na imagem rara
que os pós apocalípticos
descuram

sobre o osso negro de arthur
a terra com o luminoso ocaso
das fosforescências suspensas

no ar
a terra brilhará


(oswaldo martins)

sábado, 27 de março de 2010

Salve Jorge! Fernandes da Silveira

2010UFRJorge40anos
“A caminho do mar, mão na outra mão”: Colóquio em homenagem ao Professor Jorge Fernandes da Silveira, em seu 40º aniversário de UFRJ
Programação


dia 06/04, terça-feira


Mesa 1, “Se tão sublime preço cabe em verso”
09:00 h

Coordenação: Vera Lins (UFRJ)

Ida Alves (UFF) – Da distância das coisas ou da cor do mar: Ruy Belo e João Miguel Fernandes Jorge

Maria de Lourdes Soares (UFRJ) – Llansol, o alto voo do falcão

Marcia Arruda Franco (USP) – Poesia visual e labiríntica: contribuições lusófonas em diacronia


Mesa 2, “Repetem-se palavras como ervas”
11:00 h.

Coordenação: Clecio Quesado (UFRJ)

Alílderson de Jesus (UFRJ) – Jorge Fernandes da Silveira: um olhar à poesia tão contemporâneo quanto Camões e Luiza Neto Jorge

Luiz Roberto Jannarelli (UFRJ) – Imagens e sonhos em Luiza e Murilo

Luiza Nóbrega (UFRN) – Nas curvas da Graça, um dandy inédito ainda é vivo


Mesa 3, “As mãos são coisas firmes”
14:00 h.

Coordenação: Silvio Renato Jorge (UFF)

Emerson Inácio (USP) – Os trabalhos de olhar

Evelyn Blaut Fernandes (UFRJ) – Luiza Neto (para) Jorge, um ramo contínuo saído da sua raiz

Sebastião Edson Macedo (UFRJ) – A meditação e a partilha do sensível em Jorge de Sena


Dia 07/04, quarta-feira


Mesa 4, “Uma vertigem, com certeza”
09:00 h.

Coordenação: Cinda Gonda (UFRJ)
Caio Laranjeira Cunha (UFRJ) – Um cântico para se guardar na pupila

Luis Maffei (UFF) – Mesmo um Telefunken pode mostrar Deus, Herberto Helder

Tatiana Pequeno (UFRJ) – Para que a poesia não morra: Jorge Fernandes da Silveira, Maria Gabriela Llansol e o legado poético do fulgor


Mesa 5, “A casa é como um rio”
quarta, 11:00 h.

Coordenação: Lucia Helena (UFF)

Edgard Pereira Reis (UFMG) – A caminho do mar, mas noutra direção

Marcelo Nunes da Rocha (UFRJ) – Luiza Neto Jorge: a travessia para o outro possível

Raquel Menezes (UFRJ) – Quem tem medo de Adília Lopes?


Mesa 6, encerramento, “Porque, quem não sabe arte, não na estima”
quarta, 14:00 h.

Coordenação: Laura Padilha (UFF)

Cleonice Berardinelli (UFRJ/ PUC/ ABL) – Diálogo de Cleonice Berardinelli com Jorge Fernandes da Silveira, tendo por fulcro António José Saraiva

Margarida Alves Ferreira (UFRJ) – O Memorial de Jorge Fernandes da Silveira: um professor apresenta-se

Jorge Fernandes da Silveira (UFRJ) – As Mulheres da Minha Vida

quarta-feira, 24 de março de 2010

dois poetas

I. de custos e benefícios

valeu a pena?
não
e a alma não era pequena


II.sentimento

ando Cesário Verde
dentro de mim


(elesbão ribeiro)

sexta-feira, 19 de março de 2010

sob os dísticos imperfeitos

a terra sempre se renomeia em dísticos a cabeça tontravada
criatura do caos do remedeio do que nunca houve ou haverá

onde de um caso de palavras bem arrumadas numa caixa
sem percalços bebeu ali rosa ali quem bebeu dos haroldos

campo

para viagens ali onde depositou artur seu manto sua espada
álgida arde um tumulto de fatos que ao se espalhar no oco

mesmo da caixa ressurge como um big-bang mais aturdido
que o próprio oco do universo


(oswaldo martins)

Confraria da arte


TRISTES TRÓPICOS

Caríssimos e íssimas,

Começo nesse nosso espaço fazendo uma denúncia, e contando com esse valoroso grupo para me ajudar a divulgar o que vem acontecendo com as escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro.

Finalmente, a SME/RJ está utilizando as verbas a ela destinada desde sempre. A Claudia Costin, como boa administradora que é, e já tendo tido experiência em outros cargos governamentais, inclusive na esfera federal, sabe direitinho onde o dinheiro está e tem captado literalmente tudo o que é possível captar. Mas...

Apesar de todos os avanços no campo administrativo que estão sendo realizados nessa gestão, a orientação pedagógica está uma verdadeira barafunda!
Dentre as inúmeras propostas de "salvação" que a SME/RJ anda apresentando aos professores, de maneira absolutamente arbitrária, está uma cartilha, baseada no método fônico ou fonético - muito utilizado nos anos 50/60 e que é condenado por todos os estudiosos do assunto, desde a década de 80.

As cartilhas chegaram para serem distribuídas para as escolas cujos alunos têm dificuldade na aprendizagem da leitura. É um projeto caro, encomendado a um Instituto chamado Alfa e Beto. Chama-se "Aprender a ler" e tem um livro suplementar, com pseudo histórias para os alunos.

Com essa cartilha, pretende-se alfabetizar, finalmente, as crianças... a justificativa é que, com os métodos anteriores, as crianças não obtiveram sucesso. Posso afirmar que a metodologia do ensino de alfabetização que era orientada aos professores nunca chegou a ser implantada efetivamente no nosso município - por motivos políticos.

Desde 2002, ainda na gestão do Prefeito César Maia, as capacitações em serviço para os professores da Rede Pública Municipal foram suspensas.

As atualizações para os professores foram retomadas no final de 2009, já na gestão do Eduardo Paes. Esse vácuo de 7 anos para o magistério foi fatal. Haja vista a pesquisa recentemente publicada, em que os professores culpam as famílias dos alunos pela não aprendizagem dos mesmos. (O pior é que a SME/RJ também acredita nisso uma vez que lançou uma "cartilha" para as mães - e somente elas - aprenderem a acompanhar os filhos em seus estudos. Isso é, no mínimo, grotesco... um dos conselhos dado às mães, é que tenham um local adequado em suas casas, para as crianças estudarem. Um local silencioso, com boa iluminação, boa ventilação e confortável...) Têm ideia de qual planeta quem escreveu isso vive?

Retrocedemos 20 anos no pensamento pedagógico dessa Rede.

Algumas outras propostas de salvação do ensino na Rede Pública, são, ainda, a volta da 2ª época e dos deveres de casa... Voltando à cartilha de alfabetização, envio um dos textos para vocês verem, com algumas observações iniciais.

*Minha chinela amarela*

/"Olá, eu sou o Charles.
Eis a minha chinela.
Minha chinela é amarela.
Eu chamo minha chinela de Chaninha!

Chaninha vive no armário
De manhã, Chaninha sai do armário e vem para mim.
E Chaninha vem me ver, cheia de charme!

Eu saio ao sol, eu e a minha chinela...
Eu saio na rua...
Eu e a minha chinela.
Eu e a minha Chaninha! Lá vamos nós!

Às vezes, eu suo muito.
Eu suo na Chaninha.
Aí, ela cheira mal!
Uuuuu! Ela cheira a chulé!

Se dá chulé na Chaninha, mamãe leva e lava.
Mamãe lavou, lavou e a Chaninha furou.

Hum, a chinela é cheirosa afinal!
Chaninha é velha.
Mesmo assim ela é maravilhosa!"/

1 - Qualquer professor de Língua Portuguesa pode atestar que isso acima é quase um não-texto, porque possui débeis elementos básicos de coesão, e baixíssimo nível de coerência. São quase frases soltas;
2 - costumamos dizer que esse tipo de não-texto imbeciliza os alunos;
3 - é também inadequado para a faixa etária a que está endereçado;
4 - não utilizamos chinelas no Rio de Janeiro;
5 - Charles é um nome, ah digamos... não brasileiro;
6 - e, Chaninha, na minha terra é... vocês sabem o que significa.

Sou profª da Rede Municipal há 32 anos e nunca vivenciei nada semelhante. Nunca a SME foi tão retrógrada, com atitudes tão conservadoras e tão inconsequente em seus atos.

A Claudia Costin tem uma mídia hiper forte com ela, que é excelente administradora, mas não entende bulhufas de Educação e nem a equipe que montou para assessorá-la. E os professores ah, digamos, mais conscientes, estão sem espaço pra contar suas histórias. Só aparece o que dá cartaz ao governo, e que está apenas na superfície.

Pra terminar, outra "história" tirada da cartilha:

*Zé e Zuza*

/"Zé amola seu mano Zuza.
- Ei, Zuza zonzo!
- Não amola, Zé!

Uma manhã, uma luz iluminou Zuza.
- O Zé não me amola mais!

Zuza assou uma massa de sal numa noz.
- Uma noz, mano Zuza! Eu amo noz! Ulalá!

E zás!
Ai, ai, ai!
Noz com sal?
Zuza amolou o Zé, ou não?

O Zuza não amolou.
- Amo noz! amo sal! Noz e sal, uau! Amei!

Ué, nem o sal na noz amola o Zé!
- Ô, mano Zé lelé!
- Ê, miolo mole!"/

Parece sacanagem? E é!!! Sacanagem com os meninos e meninas das escolas públicas municipais do Rio de Janeiro.

Obrigada pela atenção

*
/Denise Vilardo/

terça-feira, 16 de março de 2010

De antigos carnavais

A CASTA SUZANA

Será você a tal Suzana
A casta Suzana do posto seis
Coitada
Como está mudada
Teve apendicite e ficou sem it

Quando conheci casta Suzana
Nas areias de Copacabana
Era namorada de um chinês
Mas olhava assim
Prum japonês

Daí deu-se a confusão
Estourou a guerra
China com Japão

(Ary Barroso – Alcir Pires Vermelho)



PAPAI ADÃO


Papai Adão
Papai Adão
Já foi o tal

Hoje é Eva
Quem manobra
E a culpada
Foi a cobra

Uma folha de Parreira
Uma Eva sem juízo
Uma cobra traiçoeira
E lá se foi o paraíso

(Klécius Caldas – Armando Cavalcanti)


PODE MATAR QUE É BICHO


Quando a mulher é boa
É boa muito boa
O homem teve ter
Cuidado e capricho

Também quando ela é feia
É feia muito feia
Pode matar
Que é bicho

A mulher quando é um pedaço
Faz o homem bancar um carrapicho
Mas quando não é bonita
Ele mesmo às vezes grita

Pode matar que é bicho

(Haroldo de Oliveira – Milton Oliveira – Francisco Alves)

sexta-feira, 12 de março de 2010

GODÔ Se lançando


para dante e paulo

o que se desfez
éter, canalha
o pequeno risco sobre a areia da praia

a cadeira em que
teorizava sobre o fim

logo ali

onde a delicadeza existia
no tempo

entre a casca desprezada
e a lucidez

dos ancestrais

(oswaldo martins)

quarta-feira, 10 de março de 2010

da nomeação de arthur

1

os côvados

quem o outrora absurdo da fala
no hoje do silêncio - aranzel -

amealha os traços

as filigranas

nos dentes
nas lacunas

como em sempre-vivas
os cordões

amarram aas caixas
o sossego

das nealhas

(oswaldo martins)

sábado, 6 de março de 2010

três da erótica

1

sobre o capô do carro
fodíamos - sem olhar -
a via láctea

2

sempre que lhe encontrava nas festas
servia-lhe vinho com tesão de vaca
e você, afogueada, convidava-me
ao banheiro social da casa

3

demoiselles

a cu expresso por picasso nas demoiselles
me fascina mais que a geometri e os véus

aquela mulher no canto baixo à direita
da tela parece-me querer cagar

(oswaldo martins)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Silêncio em A Fita Branca, filme de Haneke

De tanto que se pode dizer sobre essa obra grandiosa, quero destacar a falta de trilha musical. Há música porém naquela aldeia alemã, não só do vento frio e dos tons cinzentos, negros e brancos.

O professor e narrador toca harmônio para a namorada que acaba de perder o emprego; os camponeses dançam conforme a música no baile da colheita; três meninos fazem flautins artesanais, procuram tirar som, e um deles inveja e ataca o menino que consegue tocar.

Além dos três momentos há um coral de meninos e meninas que canta na capelinha luterana do povoado entre 1913 e 1914. Ouvem-se em pouquinhos minutos fragmentos de melodias de Bach.

No Dia da Reforma, canta-se um De Profundis, cuja letra saiu do Salmo 130. Abordam, letra e salmo, as profundíssimas culpas, no contexto da trama. No fim de tudo, o coro canta o Castelo Forte, o hino da Reforma, cuja letra foi composta por Lutero, com base no Salmo 46. No contexto da eclosão histórica da Primeira Guerra Mundial (com desfecho conhecido fora da trama), o coro final entoa o profundíssimo medo do futuro. Salmo e letra falam de um Deus invulnerável, Senhor dos exércitos, de quem se invoca a proteção absoluta.

Cláudio Correia Leitão