Kioto, de Yasumari Kawabata, lançado pela Estação
Liberdade, em 2006, com tradução direta do japonês, de Meiko Shimon, é um livro extremamente
agudo. Com mãos de tecelão, o autor aborda diversos aspectos da vidada ex-capital
do Japão, após os terríveis anos da guerra e da reconstrução que modificaria a
percepção de seu povo.
Descreve, com
malícia, a paisagem de Kioto e, ao mesmo tempo, as formas dos obis e
quimonos. A tessitura do enredo – também
de grande sensibilidade – a história das duas irmãs gêmeas, Chieko e Naeko, que
se viram separadas, quando nasceram – deixa-se ficar num segundo plano bem
urdido e quase desaparece ao longo da narrativa.
Sem apelar para
uma discrição técnica, Kawabata faz com o leitor se integre ao grandioso
universo de uma cultura que se modifica, quase como um antepassado que nos
contasse suas experiências – que são como as de todos – em surdina e olhos que
antevissem a lenta decomposição de nossa civilização. O capítulo em que narra a
presença de um relógio despertador em uma tradicional loja de tecidos é
antológica e se encaixa na medida exata das narrativas que procuram tecer-se
com intenções que vão além delas mesmas.
(oswaldo martins)
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