segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Pilulinha 26


Kioto, de Yasumari Kawabata, lançado pela Estação Liberdade, em 2006, com tradução direta do japonês, de Meiko Shimon, é um livro extremamente agudo. Com mãos de tecelão, o autor aborda diversos aspectos da vidada ex-capital do Japão, após os terríveis anos da guerra e da reconstrução que modificaria a percepção de seu povo.  

Descreve, com malícia, a paisagem de Kioto e, ao mesmo tempo, as formas dos obis e quimonos.  A tessitura do enredo – também de grande sensibilidade – a história das duas irmãs gêmeas, Chieko e Naeko, que se viram separadas, quando nasceram – deixa-se ficar num segundo plano bem urdido e quase desaparece ao longo da narrativa.

Sem apelar para uma discrição técnica, Kawabata faz com o leitor se integre ao grandioso universo de uma cultura que se modifica, quase como um antepassado que nos contasse suas experiências – que são como as de todos – em surdina e olhos que antevissem a lenta decomposição de nossa civilização. O capítulo em que narra a presença de um relógio despertador em uma tradicional loja de tecidos é antológica e se encaixa na medida exata das narrativas que procuram tecer-se com intenções que vão além delas mesmas.

(oswaldo martins)

Nenhum comentário:

Postar um comentário