domingo, 20 de junho de 2021

os soldados catam despojos

havia um corpo na terra

morta a cabeça degola

em sânie e escara

o espólio

do proscrito

 

os restos

de terra e corpo

devolvem à ferida aberta

à cova

do futuro

 

(oswaldo martins)

Soneto Para Reguera - Atahualpa Yupanqui

 

Si una guitarra triste me dijera

Que no quiere morir entristecida,

Me pondría a rezar sobre su herida

Con tal de recobrar su primavera.

 

Si un trovador me pidiera

Un poquito de luz para su vida,

Toda la selva en fuego convertida

Para su corazón yo le ofreciera.

 

Mas, de poco valió la proclamada

Pujanza de mi anhelo, si callada

La muerte te llevó, daniel reguera.

 

Pasa tu zamba por la noche oscura,

Y el eco de tu voz en la llanura

Sigue buscando luz y primavera.

 

(mar del plata, febrero de 1965)

Wilson Batista X Noela Rosa


 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

1º combate

 

sob a terra arrastam-se as sandálias

a disforme procissão a bandeira ergue

com paus e pedras ao comando-águia

do beatinho avançam os sacerdotes

 

da caatinga – todos cavam ladainhas

nas trincheiras canções de véspera

ecoam sob o chap chap absconso

com que anunciam loas ao bom-jesus

 

arrepanham as calças a cabeça-peso

desvaria atulhada do sono da pedra

sob o setentrião o assalto toma-os

oriente- se, rapaz junto às armas

 

para sempre imagens da nulidade

ante o arrastar-se que desvela a estes

e àqueles a pungente dança-dança

do coreógrafo neste baião de 2

 

por dançar

 

(oswaldo martins)

quinta-feira, 10 de junho de 2021

descanso

 

o mar traz facas de arbustos tortos

iridescências de rubros cortes

faz o sol brilho de perdidos portos

ao navegar o seca-chão nordeste

 

o alferes wanderley boné de lama

coberto escarra escaras a suja boca

da montaria desdobra com a fama

um espécime de museu entoca

 

nos fraguedos o arcabouço rijo

ventre plena imagem de cuja morte

retorta amplitude deste mar adrede

 

à vala comum soma do deus frígio

o verme da matéria em sua coorte

de bacantes crinas ao vento-letes

 

(oswaldo martins)

segunda-feira, 7 de junho de 2021

desimitações


 

poema do livro desimitações


 

o boi-pedra

 

um boi planta-se a meio

fixo como uma pedra

coça-se nas urtigas

 

seco na terra tora

meia-légua depois

cansaço de penas

 

ao céu na beira

mágoa as patas

em estira-rabo

 

rubicundo umbigo

pulsar de bicos

avoantes biltres

 

coça nas feridas

não fossem homens

que de longe viessem

 

tangê-los no aboio

subiam bambos

até o belo monte

 

(oswaldo martins)