O céu dos
suicidas, de Ricardo Lísias, editado pela
Alfaguara, é livro que se lê de um fôlego só. A afirmativa, assim peremptória,
pode fazer com que se pense ser o romance algo espetacular. Não é. É um bom
romance, não resta dúvida, mas há nele algo de já visto. Lembra-me, pela
temática, o conto de Tchekhov, Enfermaria nº 6 e
o belo Uma história das borboletas de Caio
Fernando Abreu. Embora as histórias sejam diferentes, a construção do texto de
Lísias parece-se demasiado com alguns cacoetes formais que estão presentes
tanto no autor russo quanto no gaúcho.
A linguagem criada por um autor que
pressupõe a presença de vários autores é comum e mesmo natural em escritores
que se iniciam na arte da narrativa, entretanto, se esta linguagem mimetiza de
tal modo o fazer alheio, inviabiliza-se. Não sei se é bem o caso de O céu dos suicidas, mas a percepção imediata da
leitura e das filigranas do romance deixou-me este gosto incomparável do já
sabido.
Acerta o autor em diversos
pontos. Há parágrafos enxutos e ao mesmo tempo densos. Entretanto, a busca que
norteia a narrativa perde o rumo nas longas repetições que dão conta da “doença”
em que o narrador mergulha. Romance ligado ao ego de sua época, a criação do alter
ego não convence por ser óbvia.
Deveriam os escritores – mesmo que
isto lhes custe leitores – não entregar a intenção ou despistá-la – como fazia
Machado – com substratos de leitura que se mostrariam – como nos bons
calidoscópios de outrora – com o passar do tempo, tão úteis que tornariam a
obra imorredoura.
(oswaldo martins)
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