O Comedor de Salamanca, de Jorge
Fernandes da Silveira, editado pela Oficina Raquel, no final de 2012, é um
livro saboroso, que lembra as diatribes do poeta Oswald de Andrade,
principalmente nos recortes de seu Pau Brasil. Embora os cortes de Jorge sejam
outros, outra a extração e o interesse que busca, percebe-se, na intenção de
jogar com algumas das tradições que compõem o vasto repertório cultural
ibérico, a mão irônica com que o autor traça os poemas e textos do livro.
Na ironia algo sardônica com que
lê o mundo, num movimento pendular que ora evoca a formação sentimental, ora se
desloca para a visão do mundo contemporâneo em crise, a obra do autor se
escreve como a marca d’água com que pontua a sensação dos papéis que guardam os
segredos e suas autenticidades.
Desde logo está ali a mão que
orienta – e seduz – o leitor a descobrir um universo cuja melhor expressão se
encontra nas inversões percebidas e atualizadas daquilo que se vê, se viu, ao
longo do jogo lançado entre o narrar e poetizar a vida.
Leiam os belíssimos excertos
abaixo e provem desta criação feita de sutilizas e sensibilidade.
CARMEM
Na versão espanhola que vejo da
Carmem de Bizet do Ballet Flamenco de Madrid
Um Don José
tão soberbo
Absorvido de
tamanho erotismo
Que à Carmem
só lhe resta
O vermelho da
mantilha e do vestido
*
BUÑUELLAS
Recortados, de um só campo de
informação, ao longo do mês de maio ainda em curso, estes textos, além de
desfrutarem de variantes de sentido entre recorte e corte em castelhano e
português, mantêm em fogo alto a imagem geradora e coincidente de O Comedor de Salamanca
*
Releituras
As poéticas fora de lugar
Clássicos (no literariamente,
sino literalmente) Revisitados
__ Ondas do Mar de Vigo, cadê meu
Amigo?
__ Ué, sei lá!
(O Comedor de Salamanca)
Este, então, é de uma beleza poucas
vezes alcançadas pela moderna poesia brasileira.
(oswaldo martins)
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