terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Pilulinha 28


O Comedor de Salamanca, de Jorge Fernandes da Silveira, editado pela Oficina Raquel, no final de 2012, é um livro saboroso, que lembra as diatribes do poeta Oswald de Andrade, principalmente nos recortes de seu Pau Brasil. Embora os cortes de Jorge sejam outros, outra a extração e o interesse que busca, percebe-se, na intenção de jogar com algumas das tradições que compõem o vasto repertório cultural ibérico, a mão irônica com que o autor traça os poemas e textos do livro.
Na ironia algo sardônica com que lê o mundo, num movimento pendular que ora evoca a formação sentimental, ora se desloca para a visão do mundo contemporâneo em crise, a obra do autor se escreve como a marca d’água com que pontua a sensação dos papéis que guardam os segredos e suas autenticidades.
Desde logo está ali a mão que orienta – e seduz – o leitor a descobrir um universo cuja melhor expressão se encontra nas inversões percebidas e atualizadas daquilo que se vê, se viu, ao longo do jogo lançado entre o narrar e poetizar a vida.
Leiam os belíssimos excertos abaixo e provem desta criação feita de sutilizas e sensibilidade.

CARMEM
Na versão espanhola que vejo da Carmem de Bizet do Ballet Flamenco de Madrid

Um Don José tão soberbo
Absorvido de tamanho erotismo
Que à Carmem só lhe resta
O vermelho da mantilha e do vestido

*

BUÑUELLAS

Recortados, de um só campo de informação, ao longo do mês de maio ainda em curso, estes textos, além de desfrutarem de variantes de sentido entre recorte e corte em castelhano e português, mantêm em fogo alto a imagem geradora e coincidente de O Comedor de Salamanca

*

Releituras
As poéticas fora de lugar
Clássicos (no literariamente, sino literalmente) Revisitados

__ Ondas do Mar de Vigo, cadê meu Amigo?
__ Ué, sei lá!

(O Comedor de Salamanca)

Este, então, é de uma beleza poucas vezes alcançadas pela moderna poesia brasileira.

(oswaldo martins)

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