quarta-feira, 25 de junho de 2025

Poema de Cláudio Leitão

a tarde morna

me diz teu calor

olor e flor

memória sem fado

ato a nosso fato 

essa face orna

(Cláudio Leitão)

sábado, 7 de junho de 2025

jardim

1

 

vermes rentes às paredes

sabem-se a ser do homem

a medida única

 

2

 

nestes ossos expostos

um edifício ruinoso

habita-os

 

3

 

um pedaço de pano

em roxo sujo no interior

do horto

 

4

 

não se fazem jardins

apenas o que há

sem disfarce algum

 

5

 

as entranhas à mostra

esse vermelho parque

devoram

 

6

 

a lavra cava veias

na sórdida solidez

dos homens

segunda-feira, 2 de junho de 2025

sem título

 para eugênia abrahão


as mãos 

os braços mais tarde

os pés as desarticuladas unhas

o estrondo cava esta imagem dura


meus olhos

o espanto das ruínas 

o ignóbil voejar das moscas 

ser este menino estraçalhado 

a nuvem de vergonha que o cobre

um retrato que desce aos escombros


de gaza

quinta-feira, 10 de abril de 2025

teoria 3 do poema


estrugir tem origem desconhecida

o homem quando a ele se aferra

atordoado pelo voo dos objetos

em descontrole

 

tange as possibilidades nulas

os poros se abrem

à dilação do tempo

o mínimo instaura


sua postura tátil no inútil

do quando ele usufrui

dos prazeres o átimo

de si mesmo

sábado, 22 de março de 2025

quarta-feira, 19 de março de 2025

teoria 2 do poema


se deus criou o mundo

e cronos retirou-o do caos

o poema acenderá

todas as dúvidas

em sua similitude


terça-feira, 18 de março de 2025

Íbico

 ... na primavera cidôneos

marmeleiros – banhando-se das correntes 

dos rios, onde há das Virgens

jardim inviolável – e os brotinhos de vinhas –

crescendo sob sombreados ramos de 

parreiras – florescem. Mas para mim a paixão 

não repousa em nenhuma estação. 

E, com raios marcando o caminho 

 o trácio Bóreas, 

voando veloz da casa de Cípris, com crestantes

loucuras, sombrio, descarado,

com mão firme, desde o fundo,

vigia meus sensos...


(Frag 286  Íbico)

quinta-feira, 13 de março de 2025

teoria 1 do poema

 

o conceito em sua inutilidade

arredonda o corpo do poema

 

no espaço erode os objetos

as ações e – relâmpago vivo –

 

por serem móveis as palavras

que o secretam se derretem

 

as possíveis tramas fazem rasas

as passagens que se mostram

 

e desaparecem

terça-feira, 11 de março de 2025

tríptico


hetaira


afronta desde as águas

o himeneu a cantora

de fados e fodas

*

farmácia


circense margarida

dos homens canta

a pobre ilusão

*

tauromaquia


enquanto hera vigia

o tapete borda helena

símile divino