domingo, 30 de agosto de 2020

ponto


para o césar cardoso


entre um ponto e ele mesmo

a nulidade assertiva

da aporia


*

o absoluto se nega

na via esquerda

da selva obscura


*

vestígios e seus restos

réstia de sol

sombra de guarda-chuvas

 

o arrombamento das retinas


*

basta um fio de cabelo

para cortar o olho

esta lâmina-faca


*

o aceiro em sua paisagem

de deslimites

o horizonte dos cegos


*

ante o olho

que mais não presta

a extensão dos braços

 

essa a cena muda

dos pontos

 

a cova viva

de uma tela

 

a tristeza infinita

sobre uma sebe

 

de abandonos

 

(oswaldo martins)

 

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

amor

a acidez

a película escura e fria

 

soco no estômago

as mulheres de lautrec

 

a vida, enfim

 

faz deitar-se

nos colchões

 

o abismo

do despudor

 

(oswaldo martins)

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

HOJAS DE OTOÑO

-1-

 

Lo que vivimos es como un sueño

Solía decir al despertar en la cárcel

Entre una miríada de guerras y derrotas

Y comenzaba a correr patio a través

Me pareció como una ciudad perdida

El sol en mi sueño, y la ciudad,- su sombra

La ciudad en que trago a trago como borrachos

Los prisioneros hacían sonar sus tambores y sus guitarras

Los días ya se fueron como golpeados por un yunque

Se acabó la celda, pero no el martillo

 

-2-

 

Cuántos años de crueldad han transcurrido

Como trenes cruzando túneles

Los trenes tienen marcado el camino

El terruño se ubica más allá del tiempo pasado

El viento siempre se aleja y finalmente se oscurece

Como el hierro que se oxida si antes no deviene acero

La muerte con el apoyo de nuestros compañeros

Es una república comunista

En mi corazón guardo el lamento de un tren

Mi corazón guarda la bruma de una enfermedad

Llamada amor

 

 

-3-

 

Soy una montaña tristemente sublime

El viento no sopla sino el desierto a mi alrededor

En el camino por el que avanzo aúllo por nada

Hasta que me detengo para dispararme en la cabeza

O para vivir en tribal hermandad

Aunque los años venideros me golpeen

Como un látigo

Escucho sonidos que me dicen que la verdad

Está en la propia vida

Es estupendo oír los sones del tambor

Y del clarinete

 

De Poemas Escogidos

Metin Cengiz (Turquía, 1953)

Traducción de Jaime B. Rosa

bonfim

reinou em nós um deus

caolho de andar pelas índias

 

desde o tejo as águas passadas

se reinventam no teso

 

com que a explosão das sintaxes

– o olho são – agora seco

 

fez das velhas negras

madeira de lei

 

e o santuário para onde acorrem

as consciências culpadas

 

de europa e seu abraço

de fogo

 

(oswaldo martins)

 

verbo


secara os instrumentos

as palavras na boca do estômago,

e seus zumbidos de música 


anunciaram indícios cortes 

a mínima agulha a espetar

sentidos de fotografia


aplacara os mosquitos

o paludismo e neste estar

o poema doera na voz dos pés 


até o tumulto 

que cravou em mim o suicídio 


domingo, 9 de agosto de 2020

fotografia


o desejo irrompe
suga rubro arabesco

teço a fotografia
das florações

cujas glicínias
transbordam cachos

no âmago vazio
do estame

*

o corpo dissolve-se
tintas e músculos

compõem um talvez
do quadro

em vermelhos tais
que os olhos tocam

a explodir granadas
e os líquidos seminais

*

haverá modiglianis
em ternuras

a aconchegarem-se
nas virtualidades

quando a vista alcança
desde a objetiva

que a foto reproduz
movendo-se

até o contraste
entre o nu e o seco

nos brancos
da flor de jabuticaba

*

os olhos tinem limites
a uma janela se abandonam

vinda a noite se abalam
as entrelinhas

e tinge de pulsares
meu outro espaço

*

o rosto da mulher de shunga
esta mímesis perfeita

entre o prazer
e a dubiedade

forja a fala
dos tentáculos

à fluidez dos braços