quinta-feira, 7 de março de 2013

Por que razão não se deve obedecer ao rei


Alguns episódios políticos são exemplares. Há poucos anos, o Sr. Juan Carlos, denominado Rei de Espanha, em uma reunião com representantes legítimos de várias nações refere-se ao presidente da Venezuela, Hugo Chaves, perguntando por que razão não se calava. A expressão, além de mal educada, condiz com as relações históricas de subordinação do povo latino-americano em relação aos países por que foram dominados. O direito a que se arroga o Sr. Juan – aliás rei por determinação de um estado facista – tem raízes profundas no traço de dominação que os povos europeus e seus sequazes latino-americanos impuseram, fazendo com que ficássemos calados durante cinco séculos – retire-se, por óbvio, o caso cubano que nos antecipa e emancipa.

Donos de possessões que se espraiavam muito além dos domínios de suas terras, os impérios europeus espoliaram as riquezas, a liberdade e destruíram as culturas autóctones. E nos ensinaram a submissão a seus desejos e ordens imperiais. O imperativo de valorização das terras longínquas foi se transformando ao longo da falência do modelo de dominação em uma consciente degradação (preguiça, odor, cor) que buscou nos tornar exóticos a nossos próprios olhos, fazendo com que não só nos macaqueássemos à moda dos europeus, mas e sobretudo que aderíssemos a um padrão de civilização que não escolhêramos.

Algumas consciências obviamente se levantaram contrárias às amarras que tiveram como resultado a pobreza, o analfabetismo, a incruenta bestialização das pessoas. Essas consciências de que era necessário lutar contra as forças adstringentes, que se colaram em nossas peles, sempre foram massacradas pelo poder real ou de persuasão que séculos e séculos de investimentos impuseram como naturais.

A voz do Sr. Juan se replica por toda uma camada da população que se vê ainda atrelada aos ditames de uma lógica que propicia a divisão da sociedade em camadas sociais bem distintas e que não podem ou devem se misturar. Os privilégios são claros: melhores empregos, melhores roupas, imóveis e o odiento sentimento de superioridade.

A graça e a força de Hugo Chaves estão em não respeitar os limites que a dita sociedade formal tentou lhe impor. Suas frases são lapidares e dão orgulho aos povos latino-americanos, por que a partir de sua posição firme devolve as malcriações, devolve séculos de humilhação e promovem mudanças não só na forma de reestruturar a sociedade, mas criando espaços para que nós, latinos americanos nos orgulhemos do que somos.

(oswaldo martins)


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