Alguns episódios
políticos são exemplares. Há poucos anos, o Sr. Juan Carlos, denominado Rei de
Espanha, em uma reunião com representantes legítimos de várias nações refere-se
ao presidente da Venezuela, Hugo Chaves, perguntando por que razão não se
calava. A expressão, além de mal educada, condiz com as relações históricas de
subordinação do povo latino-americano em relação aos países por que foram
dominados. O direito a que se arroga o Sr. Juan – aliás rei por determinação de
um estado facista – tem raízes profundas no traço de dominação que os povos europeus
e seus sequazes latino-americanos impuseram, fazendo com que ficássemos calados
durante cinco séculos – retire-se, por óbvio, o caso cubano que nos antecipa e
emancipa.
Donos de
possessões que se espraiavam muito além dos domínios de suas terras, os
impérios europeus espoliaram as riquezas, a liberdade e destruíram as culturas
autóctones. E nos ensinaram a submissão a seus desejos e ordens imperiais. O
imperativo de valorização das terras longínquas foi se transformando ao longo
da falência do modelo de dominação em uma consciente degradação (preguiça,
odor, cor) que buscou nos tornar exóticos a nossos próprios olhos, fazendo com
que não só nos macaqueássemos à moda dos europeus, mas e sobretudo que
aderíssemos a um padrão de civilização que não escolhêramos.
Algumas consciências
obviamente se levantaram contrárias às amarras que tiveram como resultado a
pobreza, o analfabetismo, a incruenta bestialização das pessoas. Essas consciências
de que era necessário lutar contra as forças adstringentes, que se colaram em nossas
peles, sempre foram massacradas pelo poder real ou de persuasão que séculos e
séculos de investimentos impuseram como naturais.
A voz do Sr. Juan
se replica por toda uma camada da população que se vê ainda atrelada aos ditames
de uma lógica que propicia a divisão da sociedade em camadas sociais bem
distintas e que não podem ou devem se misturar. Os privilégios são claros:
melhores empregos, melhores roupas, imóveis e o odiento sentimento de
superioridade.
A graça e a força
de Hugo Chaves estão em não respeitar os limites que a dita sociedade formal
tentou lhe impor. Suas frases são lapidares e dão orgulho aos povos
latino-americanos, por que a partir de sua posição firme devolve as
malcriações, devolve séculos de humilhação e promovem mudanças não só na forma
de reestruturar a sociedade, mas criando espaços para que nós, latinos
americanos nos orgulhemos do que somos.
(oswaldo martins)
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