Não deve haver luta entre
piano e orquestra. Seria um combate desigual. Mas o concertista também não deve
pôr as manguinhas de fora.
Narizes foram feitos para
servir de obstáculo ao beijo. Até a natureza conspira contra o prazer.
Desfile de escola de samba
guarda alguma parecença com eleição de papa: mesmo não sendo adepto, todos
querem saber quem vencerá.
Me interessa o número de
voltas ao redor do mundo, constituídas por tudo o que humanos já puseram no
papel. Para não encompridar, tento ser morigerado e conciso.
Imaginação é o maior atributo
da criatura humana quando não tenta transpô-la para a realidade. Torná-la real
inevitavelmente resultará em desastre.
Todas as coisas prazerosas são
condenadas: o gole, o coito e a mentira. Trata-se de um complô.
Se você não identifica na
realidade um colossal bolo de merda, esse bolo cairá sobre sua cabeça.
Ideologia burguesa é a que
propõe imobilizar todos os semoventes como se fossem estátuas.
O homem comum se contenta com
o que lhe passa debaixo do nariz. Os dotados de inventiva – poetas da palavra
ou de outro instrumento – desconfiam do que se oculta sob as aparências.
Aponte aos semelhantes um
caminho que sejam incapazes de trilhar, e eles o matarão.
Tamborete não é parente de
pandeiro nem de tamborim. Ele não produz som. Serve apenas para descansar a
bunda, que é um verdadeiro instrumento sonoro e involuntário.
Taverna é nome composto.
Designa távolas apinhadas na caverna.
O papel registra sublimidades
tediosas ou abobrinhas elementares. Mas não fui eu quem cortou a árvore.
Turista é o cara que toda
noite mergulha os pés numa bacia de água morna e sal.
Já que o gelo polar se
derrete, nada de pânico. Falta somente lhe adicionar algum teor alcoólico.
(Ricardo Tollendal)
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