quinta-feira, 25 de julho de 2013

O senhor Carlos

O senhor Carlos, dono da camionete em que o Jorge batia o ritmo do River e que agora me foi lembrado pelo disco WAVE, do Tom Jobim, sobretudo pela música Captain Bacardi, era um sujeito porreiro, muito legal mesmo. Era filho de japoneses e os filhos dele eram netos de japoneses, certamente.
A camionete era uma camionete velha e fechada atrás, sem janelas. Fazia entregas do chá Ipiranga, cujos pacotes eram embalados com papel celofane em casa pela esposa, pelos filhos e pelos amigos dos filhos Impressionava-me a rapidez com que o Kosô, um sobrinho dele, colava o celofane no pacote de chá.
Às vezes, levava-nos à praia, na Barra da Tijuca. Talvez tenha sido só uma vez (deveis saber que a memória generaliza, multiplica em muitos um só acontecimento). O senhor Carlos chegou a ter mais uma camionete, também velha. Mais adiante, tornou-se taxista e chegou a conduzir-me em seu táxi a um colégio em que eu dava aulas, em Ramos. Foi o meu primeiro ano a ter o direito de ficar em pé em sala de aula. Eu ainda cursava o segundo ano da faculdade, o ano era 1970. Eu tinha sofrido uma queda. A perna engessada era um trambolho para andar de ônibus. Um dia, o senhor Carlos levou um tiro em seu táxi. Sobreviveu, felizmente.


elesbão ribeiro

25/05/13  

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