O senhor Carlos, dono da
camionete em que o Jorge batia o ritmo do River e que agora me foi lembrado
pelo disco WAVE, do Tom Jobim, sobretudo pela música Captain Bacardi, era um
sujeito porreiro, muito legal mesmo. Era filho de japoneses e os filhos dele eram
netos de japoneses, certamente.
A camionete era uma camionete
velha e fechada atrás, sem janelas. Fazia entregas do chá Ipiranga, cujos
pacotes eram embalados com papel celofane em casa pela esposa, pelos filhos e
pelos amigos dos filhos Impressionava-me a rapidez com que o Kosô, um sobrinho
dele, colava o celofane no pacote de chá.
Às vezes, levava-nos à praia, na
Barra da Tijuca. Talvez tenha sido só uma vez (deveis saber que a memória
generaliza, multiplica em muitos um só acontecimento). O senhor Carlos chegou a
ter mais uma camionete, também velha. Mais adiante, tornou-se taxista e chegou
a conduzir-me em seu táxi a um colégio em que eu dava aulas, em Ramos. Foi o
meu primeiro ano a ter o direito de ficar em pé em sala de aula. Eu ainda
cursava o segundo ano da faculdade, o ano era 1970. Eu tinha sofrido uma queda.
A perna engessada era um trambolho para andar de ônibus. Um dia, o senhor
Carlos levou um tiro em seu táxi. Sobreviveu, felizmente.
elesbão ribeiro
25/05/13
Nenhum comentário:
Postar um comentário