Para
Romário de Souza Faria
A elite da
sociedade brasileira sempre viveu de golpes. Quando importaram o futebol dos ingleses,
fizeram-no esporte de brancos. Os fluminenses da vida – como é de conhecimento
geral – mandavam que seus jogadores disfarçassem a cor com o uso do pó de
arroz. Não espanta que os clubes de apelo popular tenham subvertido essa regra
e posto para jogar os negros de meu país, sem que precisassem se disfarçar. A
contribuição do Vasco da Gama e do Bangu está além de toda a vertente racista
da elite da sociedade brasileira; com ela, iniciou-se nos gramados do país uma
pequena revolução de hábitos e costumes que vai fazer com que a configuração
mestiça do país se torne aceite ao longo dos anos.
Vieram os movimentos
identitários da nação. Com luta e inteligência bastantes, aos poucos a
antevisão da destreza do brasileiro, percebida pelo aristocrático bairro de São
Cristóvão e pelo bairro operário de Bangu, foi tomando conta de todo imaginário
nacional. O samba de Ismael nasce da mesma deriva, ao agrupar os sambistas do
Estácio, para além de toda perseguição, monta a manifestação genial, que se
chamou o carnaval.
Sabemos já que,
quando a elite – acusando o golpe em seus privilégios – busca organizar a
manifestação dos estivadores, operários e subempregados, o samba deriva para o
que hoje é: uma lástima oficial em que a marcha quase militar tomou de assalto
as cadências ilimitadas de um Cartola, de um Silas, de um Mano Décio, Paulo da
Portela – que compuseram belos sambas de enredo. Não sabemos ainda que a
seleção quase branca do gaúcho Scolari, que as modificações em relação aos
gramados em que os jogos se darão trazem uma simbologia nefasta.
Ao dar a
primazia aos fluminenses da vida, ao proibirem-se os sem camisa, ao proibirem o
palavrão, e as vaias, simboliza-se a destruição de uma conquista, feita de
prisões, feita de sofrimento, feita de lutas. O episódio ainda recente do
divino jogador de futebol Paulo César Caju nas dependências do country club é revelador de como a elite
brasileira não aceita de maneira alguma que os homens que representam e
representaram nossas lutas façam parte da nação democrática que almejamos, uma
nação para todos.
As recentes
questões em torno do Maracanã são mais sérias do que a vã filosofia dos contemporâneos
pode apontar. A resistência tem de ser montada. Que os bangus os vascos da gama
possam se reposicionar nesta luta e façam de suas moças bonitas de seus são
januários o bastião das vaias, dos sem
camisa, do sonoro palavrão.
(oswaldo
martins)
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