quinta-feira, 18 de julho de 2013

Futebol

Para Romário de Souza Faria

A elite da sociedade brasileira sempre viveu de golpes. Quando importaram o futebol dos ingleses, fizeram-no esporte de brancos. Os fluminenses da vida – como é de conhecimento geral – mandavam que seus jogadores disfarçassem a cor com o uso do pó de arroz. Não espanta que os clubes de apelo popular tenham subvertido essa regra e posto para jogar os negros de meu país, sem que precisassem se disfarçar. A contribuição do Vasco da Gama e do Bangu está além de toda a vertente racista da elite da sociedade brasileira; com ela, iniciou-se nos gramados do país uma pequena revolução de hábitos e costumes que vai fazer com que a configuração mestiça do país se torne aceite ao longo dos anos.

Vieram os movimentos identitários da nação. Com luta e inteligência bastantes, aos poucos a antevisão da destreza do brasileiro, percebida pelo aristocrático bairro de São Cristóvão e pelo bairro operário de Bangu, foi tomando conta de todo imaginário nacional. O samba de Ismael nasce da mesma deriva, ao agrupar os sambistas do Estácio, para além de toda perseguição, monta a manifestação genial, que se chamou o carnaval.

Sabemos já que, quando a elite – acusando o golpe em seus privilégios – busca organizar a manifestação dos estivadores, operários e subempregados, o samba deriva para o que hoje é: uma lástima oficial em que a marcha quase militar tomou de assalto as cadências ilimitadas de um Cartola, de um Silas, de um Mano Décio, Paulo da Portela – que compuseram belos sambas de enredo. Não sabemos ainda que a seleção quase branca do gaúcho Scolari, que as modificações em relação aos gramados em que os jogos se darão trazem uma simbologia nefasta.

Ao dar a primazia aos fluminenses da vida, ao proibirem-se os sem camisa, ao proibirem o palavrão, e as vaias, simboliza-se a destruição de uma conquista, feita de prisões, feita de sofrimento, feita de lutas. O episódio ainda recente do divino jogador de futebol Paulo César Caju nas dependências do country club é revelador de como a elite brasileira não aceita de maneira alguma que os homens que representam e representaram nossas lutas façam parte da nação democrática que almejamos, uma nação para todos.

As recentes questões em torno do Maracanã são mais sérias do que a vã filosofia dos contemporâneos pode apontar. A resistência tem de ser montada. Que os bangus os vascos da gama possam se reposicionar nesta luta e façam de suas moças bonitas de seus são januários  o bastião das vaias, dos sem camisa, do sonoro palavrão.


(oswaldo martins)

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