a minha amada
libertária
não pode beber
mais do que duas taças
enquanto eu
caprichava um salmão na cozinha
ela passeava no
facebook
á mesa sem luz
de velas
hábitos de uma
burguesia que aspira ser aristocrata
romantismo
decadente
disse-me certa vez
perguntou
o que eu achava
da truculência policial
ter chegado à
zona sul
como assim?
então não sabes?
todas as noite
vês o JORNAL NACIONAL!
pegou-me pelo braço
levou-me para
diante do computador
é com esta
truculência
que vivem diariamente
as gentes da
periferia
despiu-se
e nua pôs-se na
varanda
a gritar estes
versos:
na
primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
e não dizemos nada.
na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
e já não podemos dizer nada
e roubam uma flor
do nosso jardim.
e não dizemos nada.
na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
e já não podemos dizer nada
como com ela ninguém pode
deixei-me
sentado no sofá
a enxugar a
garrafa de vinho
e a pensar
o que vão dizer
os vizinhos?
elesbão ribeiro
12/0713
Nota: os versos em itálico são de Eduardo Alves da Costa transcritos do poema No
Caminho, com Maiakóvski.
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