quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Elogio da usina e de Sophia de Mello Breyner Andersen

 

O engenho banguê (o rolo compressor,

mais o monjolo, a moela da galinha,

e muitas moelas e moendas de poetas)

vai unicamente numa direção: ida.

Ele faz quando na ida, ou ao desfazer

em bagaço e caldo; ele faz o informe;

faz-desfaz na direção de moer a cana,

que aí deixa; e que de mel nos moldes

madura só, faz-se: no cristal que sabe,

o do mascavo, cego (de luz e corte).

 

2

 

Sophia vai de ida e de volta (e a usina);

ela desfaz-faz e faz-desfaz mais acima,

e usando apenas (sem turbinas, vácuos)

algarves de sol e mar por serpentinas.

Sophia faz-refaz, e subindo ao cristal,

em cristais (os dela, de luz marinha).

 

(João Cabral de Melo Neto – A educação pela pedra)

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