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[Tradução de Augusto de Campos¹]
Vivemos sem sentir o chão nos pés,
A dez passos não se ouve a nossa voz.
Uma palavra a mais e o montanhez²
Do Kremlin vem: chegou a nossa vez.
Seus dedos grossos são vermes obesos.
Suas palavras caem como pesos.
Baratas, seus bigodes dão risotas;
Brilham como um espelho as suas botas.
Cercado de um magote subserviente,
Brinca de gato com essa subgente.
Um mia, outro assobia, um outro geme.
Somente ele troveja e tudo treme.
Forja decretos como ferraduras:
Nos olhos! Nos quadris! Nas dentaduras!
Frui as sentenças como framboesas.
O amigo Urso abraça suas presas.³
Notas
¹ Do livro “Poesia da Recusa” (Perspectiva, 364 páginas), de
Augusto de Campos. Edição de 2011. Tradução direta do russo.
² Augusto de Campos prefere “montanhez”, no lugar de
montanhês, para rimar com vez? É provável.
³ Nota de Augusto de Campos: a tradução literal desta última
linha equivale a: “O largo peito do ossétio” (cidadão da Ossétia, da Geórgia,
região de origem de Stálin). Variante literal: “Um abraço de Ossétia às suas
presas”.
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