1
berenice era
uma gata de meia idade
às vezes
pensava na vida
às vezes não
berenice vivia
pelos cantos
resmungona e
em uns dias frios
pensava
sacadas e voos
ia e vinha
dos parapeitos
às janelas encontrava-as
fechadas
pé ante pé
procurava
frestas-luz
ou mesmos
transparências
para seus
olhos de gata
berenice um
dia
lembrou-se de
que os camelos
sorriam como
que ante gozando
o nada nas
gengivas podres
no peito
cavo, de asmático
e nas
corcundas
que o
separavam do mundo
2
berenice era
um disfarce
de lurdinha, a
pobre gata
dos fundilhos
rotos
com pés
descalços, berenice
andava pelas
ruas
nas unhas
encardidas
nada revelava
de sua graça
do passado
vívido
e da mala
com que
deixou sua casa
se berenice pulara
a janela
até hoje
pairam
no ar dúvidas
sobre o
destino
da desassisada
3
berenice na
rua
na lua
nua
berenice alta
na ribalta
ou berenice
em falta
o emprego
o obrigatório
ritmo sinusal
do peito
enfim
falhado
berenice afinal
esticada na sarjeta
totalmente
morta
4
berenice ali
esticadinha
é uma boneca
enlouquecida
o batom nos
lábios
como uma
máscara
sobre o rosto
de nácar
cozido pelo
fogo
que lhe subiu
pelas pernas
tomou-lhe as
coxas
a pelve
até um a um
o baço
o seio
o pescoço e
os miolos
fazendo
esticar
as pernas
os braços
oferecidos
ao léu
à última
curva
da xoxota
aberta
para seu
algoz
(oswaldo martins)
Salve, Oswaldo,
ResponderExcluirInstigante como sempre,a tua escrita.
Muito bo,.
Abraço
Cesar