para alexandre faria,
companheiro de desabdulagens
Pois viu por sobre a cama
O terno de Farid
E viu dependurado
Abdula num cabide
(Noel Rosa)
há abdulas e abdulas neste mundão
de deus! uns abdulam para si próprios; outros desabdulam seus cofres, forjam a
festa intimorata das palavras.
os que desabdulam não
verticalizam as relações de amizade, trabalho ou governanças desabdulam a
música, a literatura, os amores e sobretudo desabdulam o sobretudo de
desabdular as entranhas fétidas das instituições ou os provérbios dos sábios de
salomão.
preferem as relações horizontais,
coordenativas e anárquicas abdulusam das vírgulas dos abusos das sempre
inventivas formas do não e sobre os comandados dos falsos regimes democráticos
impõem o escárnio e o maldizer das regras sociais
preferem as horizontalizações dos
conteúdos - uma mulher deitada é mais bonita – melhor se deitada nua – que as
parafernálias dos vestidos que as põem de pé e abaixam a crista e abaixam o
sexo e abaixam o sabor o cheiro o ardor a que todo saber deve conduzir livre e
fogoso como um potro ou uma potranca no pasto.
preferem a carne em pé à
hierarquia dos casais abdularizados e que guardam o quinhão para os filhos e
filhas se casarem nas igrejas nas sinagogas nos terreiros
os filhos dos abdulas que abdulam,
formolizados pelos pais, irão morar em casas acasteladas – nestas casas o ventre parco do saber habita – e
dos pais herdarão a unha e o sucesso da sucessão as contas bancárias e a
preocupação em criar a ciranda das idiotices que repetirão a seus fihos – os abdulazinhos.
ao meterem o bedelho na carta de
vinhos nas matemáticas somáticas nos conchavos e na proteção ao crédito ao descrédito
ao sorumbático decreto da pobreza, comandarão as usinas dos pensamentos
midiáticos e à porta dos shoppings desinventivos da unicidade, abrirão anchas
palavras, organizarão filas intermináveis para as novidades viciadas para os cineteatros
cuja sabedoria está na repetição do repetitório absurdo da repetição para a
sopa dos pobres e dos nobres sentimentos cristãos
só lamentam os coitadinhos não poderem
empilhar suas filas em verticais hierarquizações, pois assim verticalizadas as
filas se multiplicariam como se multiplicam a incompetência, a sandia sandice dos
sandeus, a burrice com que enfim tomam o mundo com suas garras de abdulas recém
formados.
de oswald aprenderão a conjugação
que lhes aprouver:
eu abdulo
tu abdulas
eles hão de abdular
como se nós abdulássemos
ou como se
inventássemos o verbo crackar
como gostam de conjugações os
abdulas – que abdulam – por isso para as
conjugações até inventaram uma teoria uma reza ou um mantra ou uma oração
empilhar verbos e
edifícios verticais
e moedas de ouro
como empilhar as
consciências
prepará-las talvez para a
imitação dos pulhas e assim criar bilhões de pulhazinhas de menor porte de
menor corte pois que os abdulas não admitem concorrência e devem nomear os
candidatos a abudula (que abdulam) do conveniente nome de pulhas já que se
ultrapassarem em pulhice àqueles abdulas sob as penas da lei salvaguardarão os
verdadeiros pulha-abdulas ou abudula-pulhas, de vasto cardápio e seleção – oh senhor
empulhar verbos e
edifícios verticais
e moedas de ouro
como empulhar as
consciências
dos que deambulam por deambular e
que por deambular desabdulam as consciências abduluzidas e estanques do estar
em ser por demais verbosas
enquanto os andrajos batem à
pilha à porta das incompetentes e verticalizadas soluções milagrosas
(oswaldo martins)
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