Em O que deu para fazer em história de amor, Elvira Vigna constrói uma
narrativa de idas e vindas, que sempre está a recomeçar e a inventar diversos
fins. Entre um fim e outro, a consciência de sua escrita ressalta uma fina
tessitura nos destinos dos personagens e ai de nós! estampa, com crueza, as
misérias dos relacionamentos humanos e suas dúvidas. O título é remissivo a
toda reflexão que a narradora propõe. Reflexão que se estende por toda a ação
da escrita e da vida.
Ao mesmo tempo metalinguístico e
não, o romance acontece na sensibilidade e inteligência do leitor a partir das
substituições propostas pela narrativa. Na unicidade conquistada pela
narradora, todos os personagens são si mesmos e os outros, amalgamados em uma
mesma sensibilidade do tempo e do convívio social.
A operação admirável que Elvira
consegue imprimir neste seu novo romance é tanto mais digna de entusiasmo
quanto maior a capacidade de fragmentar a voz da narradora e ao mesmo tempo dar
a ela a capacidade de refletir que esta fragmentação está intimamente ligada à
expressão verossímil da vida.
Parece-me que a intenção
permanente na pegada do romance está nesta capacidade de se afirmar ao mesmo
tempo como narrativa e dela afastada paradoxalmente, pois o que se dá a ler
como romance, ficção, é a capacidade mesma de se dar a ler como vida. Daí as
idas e vindas da narradora, daí o pensar ingente que toma a vida da narradora
que se põe a escrever desde sempre. Daí a reflexão a flor da pele que
encontramos no romance.
(oswaldo martins)
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