Carta
O modo como assassinaste a tua família
nada significa para mim
enquanto a tua boca percorre o meu corpo
Eu conheço os teus sonhos
de cidades arrasadas e cavalos em fúria
do sol demasiado perto
e da noite sem fim
Mas isso nada significa para mim
ante o teu corpo
Sei que lá fora uma guerra ruge
que tu transmites ordens
e bebés são afogados e generais degolados
Mas o sangue nada significa para mim
pois não altera a tua carne
Que a tua língua saiba a sangue
não me surpreende
enquanto os meus braços crescem no teu cabelo
Não penses que não compreendo
o que acontece
depois de as tropas serem massacradas
e as putas passadas à espada
Escrevo isto só para te roubar o prazer
quando uma manhã a minha cabeça
estiver dependurada com a dos generais
do portão da tua casa
Só para que saibas que previ tudo
e que isto nada significa para mim.
(Tradução de Jorge Souza Braga e Carlos Tê no livro Antologia Poética, lançado em Portugal pela Assírio e Alvim)
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