1
pernas descabidas
alheias ao movimento
sustentam pilastras
um mundo estático
tiro fotos
que ninguém olhará
2
quando
uma vidraça
não faz barulho
o tempo se desfaz
resoluto
uma vidraça se quebra,
se quebra, sempre
no relativo exato
deste segundo
3
onã,
o fabuloso
me faz comer
todas as mulheres
do mundo
4
a coxa pediu-me carona
dei-lha
a coxa possuía belos seios
boca carnuda
sentou-se ao meu lado
no longo sofá do carro
jamais novamente a vi
e ela rodava pelas madrugadas
quando, manco,
corro atrás dos amores impuros
5
*
os zeros são números neutros
nada indicam
de positivo
ou negativo
quietos como quem morre
ou ainda não nasceu
os zeros apenas
rugem nos fictícios arranjos
da poesia
**
pensar na matemática
é como descobrir
universos
ou
teorizar micro células
invisíveis
ao olhar humano
ou
a raiz quadrada
da poesia
6
o dia brilha
para o cão
para o boi, no pasto
na buceta inchada
na mão de minha mãe
na mão de meus irmãos
na coxa que um dia
fodi
7
eram dois desesperos
zeros
por isso se bastavam
como se dois sexos
abertos do universo
fossem
(oswaldo martins)
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