quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Poemas da solidão


1
pernas descabidas
alheias ao movimento

sustentam pilastras
um mundo estático

tiro fotos
que ninguém olhará


2
quando
uma vidraça
não faz barulho

o tempo se desfaz
resoluto

uma vidraça se quebra,
se quebra, sempre

no relativo exato
deste segundo


3
onã,
o fabuloso

me faz comer
todas as mulheres

do mundo


4
a coxa pediu-me carona
dei-lha

a coxa possuía belos seios
boca carnuda

sentou-se ao meu lado
no longo sofá do carro

jamais novamente a vi
e ela rodava pelas madrugadas

quando, manco,
corro atrás dos amores impuros

5

*
os zeros são números neutros
nada indicam
de positivo
ou negativo

quietos como quem morre
ou ainda não nasceu

os zeros apenas
rugem nos fictícios arranjos
da poesia

**
pensar na matemática
é como descobrir
universos

ou

teorizar micro células
invisíveis
ao olhar humano

ou

a raiz quadrada
da poesia


6
o dia brilha
para o cão
para o boi, no pasto

na buceta inchada
na mão de minha mãe
na mão de meus irmãos

na coxa que um dia
fodi


7
eram dois desesperos
zeros
por isso se bastavam

como se dois sexos
abertos do universo
fossem

(oswaldo martins)

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