Estava sentada na cama, velha
pelancuda e nua em um quarto pequeno e pobre. Olhava para o nada, concentrada
na memória que não estava ali. Fazia frio e o aquecedor velho chiava. O calor
soltava pequenos fragmentos de brasa, mas meu peito estava ressequido, meu colo
depunha camadas de colares naturais, como cascatas de pérolas sujas.
A pensão, como um retrato deste
tempo que já não é o meu, estava vazia e silenciosa. Velhos como eu habitavam
seus quartos e pouco saíam de suas camas. Os estudantes estudavam, os
motoristas dirigiam seus carros, os condutores conduziam, trabalhadores
trabalhavam e os relógios marcavam o tempo zero e nunca repetiam as cinco horas
do chá nem deliquesciam as horas dúbias de dali.
Havia pressa e ninguém mais fazia
do sexo sua arma fatal contra a hipocrisia das famílias, todos trepam mulheres
homens gays em comunhão com o santo cristo e a família eclesiástica dos
inventores da morte e do casamento de que pretendem herdar com a segurança dos
que se pretendem eternos.
Estar sentada aqui nua, coma s
pelancas fazendo-me as vezes de colar pode ser considerado um ato de
resistência contra o mundo.
(jurema silva)
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