quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

auto retrato

dos pintores que se retrataram
rudes em suas sombras quê

traço de desigualdade e estupor
desvão sórdido entre o cinza

o ocre dos dias perdido a buscar
nos vazios os retratos dos poros

enlameado de suor e barba
por fazer

*

dos pintores que se retratam
nas cozinhas

a cuspir manchas e soletrar
de si para si

os nomes feios
as edificações manchadas

muros
a parir fetos

e monstros obscuros

*

dos pintores que se retratam
desconexos

a gengiva
o cós da calça

as nuvens como expressos
a vagar sobre a cabeça

das devoradoras noites
entre o ocaso e o silêncio

das tintas

(oswaldo martins)

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