Não é a lua
Não
é a lua, não, é um mostrador.
Que
culpa tenho se as estrelas baças
Me
parecem leitosas, sem fulgor?
Batiúshkov
não merece piedade.
"Que
horas são?", perguntaram-lhe uma vez,
E
ele só respondeu: "Eternidade."
MANDELSTAM,
Ossip. "Não é a lua". Trad. de Augusto de Campos. In: CAMPOS,
Augusto. Poesia da recusa. São Paulo: Perspectiva, 2006.
*
O
corpo me é dado-e com que fim,
Meu
corpo único,tão de mim?
Pela
alegria chã de respirar,
Silenciosa,a
quem devo louvar?
Sou
jardineiro e sou flor- cativo
Na
prisão do mundo sozinho não vivo.
E
já nos vidros da eternidade
Cai
meu calor,meu sopro respirado.
Nela
se grava um desenho pra sempre,
Irreconhecível
de tão recente.
Escorra
do momento a água turva-
O
desenho amado não esbate à chuva.
MANDELSTAM,
Ossip. Trad. Nina Guerra e Felipe Guerra. Lisboa Assirio & Alvim
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