O Livro
de Praga, de Sérgio Sant’Anna, escrito para a Cia das Letras, é constituído
por uma economia verbal rigorosa. Nos contos em que se passeia por Praga – intencionalmente,
o autor visita, além dos ícones da cidade, uma tradição literária que sempre se
quis moderna, inquieta e renovadora.
Praga – narrativas de amor e arte
– é tudo isso – um visitante da boa tradição dos contos e da inovação absoluta
da arte experimental. Já na primeira história – A Pianista
– anuncia-se todo o refinamento e tema que Sant’Anna desenvolverá num
crescente e pungente erotismo – que o digam A Tenente e
O Texto Tatuado, para não falar do erotismo
profundo e dilacerante de A Boneca.
O erotismo nos contos de Praga
transcende a carne e se joga no corte preciso da arte indo além da perspectiva
do erotismo tout court. A criação das
perspectivas de se ler o que a arte e a arte de narrar podem ainda atingir leva
o leitor ao cerne mesmo da indagação da leitura. Uma peculiar mímesis se opera
nos contos do autor, sem que o depurado intrarrealismo[i]
de Kafka se afaste do pensar ingente das impossibilidades, os contos de O Livro
de Praga o visitam e sugerem a angústia do inominado.
Ao mergulhar nessa angústia não é
que o erotismo se afaste para dar lugar ao metafísico, mas que num e noutro
polo o erotismo se realiza fazendo do espírito também ele parte sensível dos desejos,
como se pudessem ser tocados nesta agônica escrita toda a totalidade do homem
despedaçado e silencioso que, entretanto, confronta a esquivança do mundo e
dela toma posse.
Para o Cláudio Leitão, pela indagação
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