Com toda essa brida provocada pela invenção tupiniquim do bloomsday, em homenagem ao nosso pretenso e poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, senti vontade de voltar a um texto fundamental para ler a obra do grande poeta, lido no curso de mestrado que fiz na UERJ, sob a orientação de Luiz Costa Lima.
Publicado em livro que então se produzia, “Drummond: As metamorfoses da corrosão” (1989) lançava novas perspectivas de leitura para sua poesia. No texto – exponho-o de maneira sucinta – procura-se verificar a existência de um princípio que ordenaria a poética drummondiana, desde seu primeiro livros e que aos poucos, à medida que as experiências vivenciais do poeta se colocam, vão se modificando e construindo outras identidades e possibilidades de leitura.
No texto de Costa Lima, lemos que o princípio da corrosão, “em sua primeira recolha, confia na técnica da fragmentação e no papel da ironia para formular o caráter problemático do mundo que lhe foi dado”. Embora permaneça em livro que abre nova perspectiva na obra de Drummond, “o privilégio da ótica irônica- fragmentadora” que se opõe “à grave dicção do sublime” formula em o Sentimento do Mundo num novo elemento: o sentimento de participação, que novamente se metamorfoseará quando a dicção mais elevada de Claro Enigma pressupuser outra deriva.
O texto de Costa Lima é fundamental para que se possam surpreender não só os caminhos trilhados por Drummond, mas para também perceber que esgotada as vertentes da corrosão, a poesia de Drummond se dirige à aclimatação do poeta às exigências do leitor, perdendo a elaboração formal e tornando-se “uma espécie de consciência pública média”.
O nosso bloomsday, ao entronizar o poeta na consciência do público, pode correr o risco de fazê-lo por um viés mais imediato e facilitador e daí celebrar não mais o poeta, mas o cronista. Portanto, tenhamos prudência, que o santo pode se revelar de barro.
(Oswaldo Martins)
gostei do texto, Oswaldo, poeta não se reduz, se amplia, só assim ele pode ser realmente visto!
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