Há duas atitudes a tomar diante da inviabilidade da experiência humana em todos os tempos e lugares. A primeira é a do meu avô, e tudo o que penso a respeito eu acho que disse para meu pai aos treze anos, da forma como ei conseguia na época, e lembrando hoje da briga e da maneira como meu pai me olhou na briga e da conversa que tivemos no dia seguinte à briga e da forma como ele passou a agir depois eu percebo que ele secretamente me deu razão, e que já sabia disso desde sempre, e que seria capaz de dizer as mesmas palavras que usei na época, as que fui capaz de escolher, e até então ninguém havia sido tão direto ao lembrar o meu pai de que meu avô se agarrou a um pretexto, um álibi dele, a aura que o tornava uma espécie de mártir, um santo por haver estragado a vida de meu pai embora tenha seguido à risca as previsões das toneladas de páginas e milhares de filmes e infinitas horas de discussões sobre a inviabilidade da experiência humana em todos os tempos e lugares e como terminaram todos os que tiveram contato com ela, mesmo que ela tivesse um nome tão simbólico e acima de qualquer discussão como Auschwitz.
(LAUB, Michel. diário da queda. Pag135 -136 – Cia das Letras, 2011)
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