para ubiratan braga
se de lúcia preferes a senhora que por trás governa para ser governada
estou fora, histrião
se a dor no peito
se o aperto no peido
se preferes a higiene das bem nascidas o ai não me toques das moças donzelas
estou fora
das beldades de empréstimo que quando deixam cair a roupa deixam cair as máscaras das propagandas, do rímel, da falsa bunda ao siliconado peito ou da calça jeans apertadinha sobre os amplos beiços da boceta
vestes então do despudor a voz altiva que comandou escravos que comandou homens até a hora agá gagá senhora de vinte e poucos anos já automatizada em roubar as sibilas do tempo por isso pintas os cabelos pintas o contorno dos olhos a boca e botocuda de botox já não ris senão da desgraça das pobres moças que não têm de seu senão as flores gonocócicas da verdadeira impudicícia, as destroçadas moças as altissonantes moças que bebem que gritam que estridulam com os cabelos desgrenhados pelas esquinas que marcam de roxo o rosto que maceram de nada os sonhos e fazem guris em penca para cuidarem os outros ou para abandonarem os tristes bastardos da pátria ao relento do crack, da cracolândia ou da faca que o feitor de teu tempo constrói nos reformatórios da cidade
onde então tomam porrada
estou fora, senhora
pois que propões para a miséria o medo e suas prisões ou para as favelas o caveirão o caveirume da porrada de antanho, disfarçada, senhora disfarçada, de alento para quem não tem alento e escondes as escolas, fazem com que sonhem com bulevares e lhes dão falésias e felonia e um monte de roupa suja
estou fora, senhora
dos twitters que propõem discutir a segurança pública e reinventam a burla do pão e do circo que reinventam o funk como codinome do samba que tanto odeias
tua rebeldia – senhora sempre envilecida – é pouca teu sonho de liberdade pífio
ah, senhora,
queria te ver no asilo, de camisola queria te ver na esquina, pedindo esmola queria te ver na frente de uma pistola, toda frajola de longo e salto alto na padiola que boa bola
na lida queria te ver na linha de passe entre a cachaça e o rufião entre o tiro e a linha fronteiriça do bem e do mal te ver cagar nos vasos sujos dos botequins de terceira entre as moças
de calças largas e bocetas apertadas
(oswaldo martins)
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