Quando alguém, visando a beleza de um produto, a ele dá um nome de um pintor, de um poeta, de um músico, falseia a relação do produto com o público e mostra a destruição que a obra do artista sofre pela exposição midiática. A emulação grosseira pressupõe a falta de leitura daqueles que os mestres da publicidade pensam ser o público alvo do produto oferecido.
Dirigimos um Picasso, bebemos a cerveja que Vinícius nunca bebeu, que vende a minha pátria para o Banco Bamerindus, Drummond, um bom ano novo ou uma calça, Bandeira, que nunca vendeu sabonetes, vira garoto propaganda. Ainda virão a penicilina Noel Rosa, a calcinha Leonardo, o motel Jorge Amado ou Gabriela.
Nos restaurantes antigos comemos o Oswaldo Aranha, nos modernos toda uma sorte de artistas, pintores e demais personalidades desomenageadas pelo prato preferido à doré. Moramos em mansardas ou mansões chopin, strauss ou villa-lobos e carlos gomes, e deseducamos as crianças em pretensas vanguardas – arautos do atraso e da arte da propaganda. Quantos sairão dali prontos para o mercado?
Quando Baudelaire disse que o poeta iria ao mercado vender a alma, como as putas vendem o corpo, não disse ou justificou a mixórdia do mercado – senão que dele fez lugar de preferência para passear a inaptidão do sujeito, sua radical redução à aberração denunciatória dos novos tempos recém-inaugurados.
Quando Caetano entra na justiça para proibir que um investimento qualquer roube-lhe a tropicália para nela fazer morar mal-pensantes que pensam comprar a modernidade e o paraíso, merece, novamente, nossa absoluta aprovação.
(oswaldo martins)
Irmão, grande texto. Tô contigo. Na luta pelas coisas que não tem preço. Enquento isso, na Moviola, continuo pedindo um Machado de Assis sem geléia.
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