Os padrões da poética se mantêm
durante séculos, toda mínima modificação que se faz de um texto para outro só completa
seu efeito muitos anos após o escritor ou escritores tomarem uma deriva
diferenciada. Textos há que divergem de toda uma época, o que só pode ser percebido,
a partir de uma leitura em perspectiva e feita alguns decênios ou mesmo séculos
depois. Os leitores contemporâneos, não o percebem por sua época apresentar uma
urgência falseadora das verdadeiras modificações sofridas pelos textos poéticos,
que são mínimas. Como se obriga o contemporâneo a “inventar” novidades a cada
passo, perde-se a noção perspectiva do que realmente importa. A mudança de
percepção sobre o mundo que uma e outra obra inauguram.
A modernidade perdura há pelo
menos dois séculos, sem que o estatuto que a rege tenha sido, no mínimo,
arranhado. O pós-moderno é uma deriva de pouquíssimas novidades e de repetição
criativa. O período clássico durou outros três séculos, desde que Dante, o
poeta florentino, escreveu a Divina Comédia e começou a embaralhar os sentidos
mais expressos da escrita cristã e medieval ou que Aretino, outro poeta
italiano, dando um passo além, recolocou em circulação, de forma especial e
precisa, o erotismo pornográfico.
Mesmo pela evocação de uma nova
cosmologia, que inseriu o purgatório como elemento da reflexão poética um pouco
mais afeita aos apelos do sujeito, mesmo pela carnalidade de uma metafísica
estranha e humana que a eroto-pornografia do poeta Aretino desvenda, a poética
pôde muito mais tarde se erigir no que será nomeado modernidade. Sem as
modificações introduzidas pelos dois italianos, dificilmente a modernidade
subjetiva teria tomado a deriva que tomou.
(oswaldo martins)
BELO, OSWALDO!
ResponderExcluirLEMBROU GUILLEN (O JORGE, O OUTRO, NICOLÁS, OUÇO MAL): NÃO HÁ PROGRESSO EM ARTE, DESDE A GRUTA DE ALTAMIRA.
É uma bela tese enunciada, Oswaldo, esperamos que você a demonstre. Gosto especialmente da perspectiva sobre o pós-moderno - de fato as questões da modernidade estão longe de serem superados. Mas há um momento contemporâneo de crise que , creio, a posteridade encontrará, nessas décadas que estamos vivendo, algumas dessas importantes e mínimas modificações que perfazem os padrões da poética. Descobrir (revelar) aquelas de Dante e Aretino, nesse caso, não é só ler o passado, mas construir instrumentos para atuar no presente. Grandes motivos para fazer teses, além de poemas, é claro. Abraço.
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