Ah, as histórias do Doutor sempre
me deliciaram, você sabe. Por isso o visitava muitas vezes em seu consultório. Pretextava
uma dor qualquer, para visitá-lo. Sempre fui recebida com alegria. Neste dia,
passava pela porta, há muito tempo não subia as escadas, para dar um olá, saber
das novidades e contar outras.
Ao entrar na antessala, vi que
não havia ninguém. A secretária já havia se ido, as clientes não mais estavam. Bati
com as pontas dos dedos, pronta me retirar, quando ouvi a voz bonachona e
despreocupada, dizendo para esperar. Ouvi a cadeira sendo arrastada. Levantou-se,
com a elegância que tinha e abriu-me a porta de par em par, perguntando logo
pelas novidades, Mariinha?
Olhei de esguelha, o Doutor lia
um livro muito grosso. Sabia que, naquela cidade enfadonha, para ele valiam os
livros e as pequenas histórias com que atiçava sua necessidade de saber das
coisas do mundo. Eu podia até me considerar parte daquele vício, com minhas
histórias. Eram histórias de putas, mas sabia que o deixavam contente.
Falei. Sabe a Dorvalina? Pois é,
fui lá no castelo dela. Disseram que estava acamada. Soube? Sim. Visita de uma
para outra, que no nosso mundo é assim, disputamos as moças e os homens, mas
resta entre nós desapego. E ela me contou que um certo senhor, distinto, mandou
em embaixada um moço. Queria experimentar essa vida. Ela se riu. Veja você, comadre,
disse.
Esse senhor queria ou queriam
para ele, não sei. Uma das moças, para tudo. Mandei uma delas tomar banho, se
vestir, perfumar. No dia seguinte soube. O senhor andou pelas casas querendo
fechar, impor decência. Isto antes. Falou com aquele jeito entrecortado dela lá
contar suas histórias. O isto veio puxado, em “s”. achava chique dizia ser bom
para o ofício, davam mais sustância ao cabaré.
Mas soube no dia seguinte, preambulava.
O Torquemada das putas enfim sucumbiu. Ria-se. Parece que não foi ele, mas
amigos dele. Armaram em um sítio não muito distante daqui. A moça foi de carro.
Disse ela, sabe, né, dona Dorvalina. O homem estava nervoso, sem funcionar
direito. Aí, não tive dúvida, abocanhei. O homem gostou. Quer novamente.
Mariinha riu-se gostoso e
satisfeita, imitando a fala de sua comadre. Ele gostou, agora só vai querer
saber disto.
(Oswaldo Martins)
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