segunda-feira, 28 de maio de 2012

Flagelo da putas


Ah, as histórias do Doutor sempre me deliciaram, você sabe. Por isso o visitava muitas vezes em seu consultório. Pretextava uma dor qualquer, para visitá-lo. Sempre fui recebida com alegria. Neste dia, passava pela porta, há muito tempo não subia as escadas, para dar um olá, saber das novidades e contar outras.

Ao entrar na antessala, vi que não havia ninguém. A secretária já havia se ido, as clientes não mais estavam. Bati com as pontas dos dedos, pronta me retirar, quando ouvi a voz bonachona e despreocupada, dizendo para esperar. Ouvi a cadeira sendo arrastada. Levantou-se, com a elegância que tinha e abriu-me a porta de par em par, perguntando logo pelas novidades, Mariinha?

Olhei de esguelha, o Doutor lia um livro muito grosso. Sabia que, naquela cidade enfadonha, para ele valiam os livros e as pequenas histórias com que atiçava sua necessidade de saber das coisas do mundo. Eu podia até me considerar parte daquele vício, com minhas histórias. Eram histórias de putas, mas sabia que o deixavam contente.

Falei. Sabe a Dorvalina? Pois é, fui lá no castelo dela. Disseram que estava acamada. Soube? Sim. Visita de uma para outra, que no nosso mundo é assim, disputamos as moças e os homens, mas resta entre nós desapego. E ela me contou que um certo senhor, distinto, mandou em embaixada um moço. Queria experimentar essa vida. Ela se riu. Veja você, comadre, disse.

Esse senhor queria ou queriam para ele, não sei. Uma das moças, para tudo. Mandei uma delas tomar banho, se vestir, perfumar. No dia seguinte soube. O senhor andou pelas casas querendo fechar, impor decência. Isto antes. Falou com aquele jeito entrecortado dela lá contar suas histórias. O isto veio puxado, em “s”. achava chique dizia ser bom para o ofício, davam mais sustância ao cabaré.

Mas soube no dia seguinte, preambulava. O Torquemada das putas enfim sucumbiu. Ria-se. Parece que não foi ele, mas amigos dele. Armaram em um sítio não muito distante daqui. A moça foi de carro. Disse ela, sabe, né, dona Dorvalina. O homem estava nervoso, sem funcionar direito. Aí, não tive dúvida, abocanhei. O homem gostou. Quer novamente.

Mariinha riu-se gostoso e satisfeita, imitando a fala de sua comadre. Ele gostou, agora só vai querer saber disto.


(Oswaldo Martins)

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