Rapaz, não resisto a comentar
algo que li no seu blog. É que acabei de assistir à Invenção de Hugo sei lá o
quê e vou te dizer uma coisa: este filme é o mais fraco de todos os filmes
fracos do Scorsese, isto para não utilizar o calão. Eu fui dormir pensando
neste assunto e por isso não pude deixar de escrever estas linhas quando acordo
e vejo o comentário no seu blog. Este negócio de "homenagem ao
cinema" se converteu numa das maiores picaretagens da sétima arte. Na
verdade é (mais uma) demagogia deste filme. Ou seja, um filme 3D, 4 D, sei lá,
que as câmeras quase entram pelas paredes, a neve cai em cima da gente, o
cachorro quase nos baba, mas vejam só a verdadeira poesia do cinema eram na
verdade aquelas coisas circenses e ingênuas do Mélies, de quem vocês, público
ignaro (e aí vem também a coisa pedagógica, igualmente insuportável) jamais
ouviram falar e de cuja notícia devem em muito agradecer a este cineasta do
século 21 (ou ao menos mui sensível a ele, embora velho). Estas homenagens
geram um "lirismo" (puxa, mas como ele sabe reconhecer a beleza do
passado, não?) falso, tão superficial quanto o efeito "estético" dos
truques digitais. O texto é um lixo, o roteiro (ai o calão) uma pobreza,
incapaz de aproveitar as deixas mais óbvias que a trama lhe oferece, a música,
um realejo amorfo (é engraçado, porque aparece o tempo todo um guitarrista com
toda a cara do Django Reinhardt, mas nada se ouve do jazz cigano que já
existia). Os atores não conseguem salvar o texto porque acho que nem JC
conseguiria, o menino, fraquinho, fraquinho... Puxa rapaz, que decepção! Ora,
se o Martin quer homenagear o cinema, que volte a fazer um filme que preste,
que diabos.
(Ronald Iskin)
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