I
Levantemos uma bandeira negra sobre os países
e desenhemos uma cruz na nossa porta,
pois uma grande peste assola a terra.
Percorreu a árida terra de África sobre pés amarelados pela
febre.
Desfilou pelas ruas de Berlim
ao compasso de tambores e música de vento.
Nos conventos de Espanha disse como os anciãos
o deslizante rosário das metralhadoras,
e nos arredores de Madrid escondeu o seu terrível rosto
numa máscara de gás último modelo.
Atirou sobre as suas empestadas feridas as capas do ditador
e cobriu o seu ventre inchado com uma casula vermelha de
bispo.
Um dia nomearam-na catedrática em Jena.
E ela falou com uma boca bicuda e astuta atrás dos seus
livros.
Em Xangai enforcou trezentos escravos que tinham pedido pão
e quando teve oportunidade de arrancar as unhas a um velho
judeu
largou à gargalhada.
Olhou os seres humanos com olhos sanguinolentos
ferindo-os com a cegueira,
para não cultivem cereais na terra,
mas granadas nas fábricas,
para que não construam cidades levantadas até ao céu,
mas as incendeiem,
para que não saúdem o seu irmão,
mas o matem
– – –
Levantemos uma bandeira negra sobre os países
e desenhemos uma cruz na nossa porta,
por causa da grande peste.
(Inger Hagerup)
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