segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Rotina


Tenho a garantia da perda
toda manhã.

A ligeireza do tempo
e a vassoura escondida
atrás da porta
para espantar visitantes
eternos.

Fotos de mortos nas paredes
me arrepiam pela falta.
Tudo é nu de medo.

Garanto que nada fique.
Limpando o enredo,
sem personagens
ou poeira,
o tempo não se agarra a nada
e em desespero
me solta.

As palavras escorrem
e se distinguem de mim.

A identidade radical,
o pão, a manteiga,
um dia inteiro pela frente.

(Lúcia Leão)

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