Tenho a garantia da perda
toda manhã.
A ligeireza do tempo
e a vassoura escondida
atrás da porta
para espantar visitantes
eternos.
Fotos de mortos nas paredes
me arrepiam pela falta.
Tudo é nu de medo.
Garanto que nada fique.
Limpando o enredo,
sem personagens
ou poeira,
o tempo não se agarra a nada
e em desespero
me solta.
As palavras escorrem
e se distinguem de mim.
A identidade radical,
o pão, a manteiga,
um dia inteiro pela frente.
(Lúcia Leão)
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