Eu cantarei de amor
tão docemente,
Por uns termos em si
tão concertados,
Que dois mil
acidentes namorados
Faça sentir ao peito
que não sente.
Farei que amor a
todos avivente,
Pintando mil segredos
delicados,
Brandas iras,
suspiros magoados,
Temerosa ousadia e
pena ausente.
Também, Senhora, do
desprezo honesto
De vossa vista branda
e rigorosa,
Contentar-me-ei
dizendo a menor parte.
Porém, pera cantar de
vosso gesto
A composição alta e
milagrosa
Aqui falta saber,
engenho e arte.
Luís de Camões
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