As mil possibilidades da linguagem são exemplificadas ao longo da história em forma de metamorfoses literalmente ambulantes, agentes e fatores modificantes do falar original. A Língua Portuguesa, originária do latim e cosanguínea de línguas como o italiano, espanhol ou francês, reflete com precisão esse processo de transformação ativo que acontece constantemente com a linguagem.
Desde o momento em que o português pisou no Brasil, perdeu um pouco de Portugal e ganhou um pouco de Tupi; de jacaré, de mandioca, abacaxi, tamanduá. Começou-se a gerar aí a Língua Brasileira. Com a chegada do africano, o povo ganha o batuque, a macumba, uma boa bagunça e o cafuné. Palavras e costumes, crenças e o multicolor da nova terra formam a cultura, nesse momento, que iria criar a base para todas as futuras variações do autêntico falar brasileiro.
A propagação da língua e sua consequente transformação, de indivíduo a indivíduo, de cidade a cidade, de região a região e no espaço comum, dão ao idioma esse caráter camaleônico e, por isso, colorido, principalmente ao se tratar de uma cultura tão vasta em um território tão extenso que é o Brasil. Inúmeros são os sotaques e variações, desde o nordestino arrastado até o gaúcho pizzicato; o português é um verdadeiro veículo de expressão de diferentes grupos, de diferentes ideias. Observam-se na música ou na literatura tamanhas possibilidades que fazem do português abrasileirado uma profunda e interminável fonte de criação.
O povo do Brasil deve orgulhar-se de sua autonomia linguística, no que diz respeito às suas tradições locais e sociais, uma vez que qualquer falar é o falar correto e rico por si só. A língua deve ser explorada e aceita em todas suas dimensões e incentivada aos mais jovens de modo que os faça entender seu caráter transformador e perpetuante, pois serão esses jovens que continuarão, por gerações, girando a manivela do mundo, girando a manivela da transformação.
(Jade Luz Ciconello)
Muito interessante!
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