A poesia de Elesbão
Ribeiro, cujo primeiro livro, Estação piedade, traz o frescor de um olhar não
viciado sobre a cidade, possui uma deriva especial. Os versos bem medidos, sem
excessos, enxutos, criam uma expectativa no leitor que resulta do caldo cultural
que perpassa a cidade nestes últimos quarenta anos.
Desde os cinemas
dos bairros que se transformaram em templos religiosos às festas populares como
a celebração de Cosme e Damião, a poesia de Elesbão Ribeiro associa uma nova
perspectiva, um olhar inusitado, apaixonado, mas crítico, do espaço urbano, que
ultrapassa os limites dos bem falantes e repetitivos poetas cariocas, com as
suas figuras de sempre, os cristos, os corcovados, as praias. Recolhe em si o
melhor Bandeira e o distende até uma dicção que lhe é própria.
O sotaque de
piscar o olho para a herança portuguesa convive com maestria com a boa malandragem,
em seus recantos mais sutis, da linguagem da cidade. Assim, as percepções da
alma e do corpo, sobretudo o feminino, se entregam a uma aguda sondagem da
presença, em linguagem, de uma especificidade tanto corrente quanto inusitada.
O triângulo isósceles da mulher de Tales de Mileto se transforma numa bem sabida,
esperta, – anoto que o adjetivo aqui melhor descreve a poesia do autor – teoria
geométrica que ao mesmo tempo se descreve no seu reverso.
O bom negro, o
bom branco e o bom sotaque d’além-mar, em Estação piedade, gingam no corpo das
belas mulheres, no olhar deste poeta surpreendente em que se constitui Elesbão
Ribeiro.
(oswaldo
martins)
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