terça-feira, 6 de novembro de 2012

versos para uma rapariga saloia e trigueira 2


ao modo de Gonçalo M. Tavares


rapariga do campo
era uma saloia

para melhorar de vida
mudou-se pra cidade

foi trabalhar na casa do rei
mais trabalhava na casa do rei do que na casa do pai
bem mais alimentada, tornou-se mais bonita

como andava na horta sob sol
queimada pelo sol
tornou-se trigueira

o rei
tinha um filho
rapaz muito bem apanhado
o filho do rei encantou-se pela saloia

num final de tarde estava a rapariga a regar a horta
apareceu-lhe o filho do rei com um sapato de cristal
ao ver o rico rapaz rico ajoelhado
a querer meter-lhe um sapato no pé
a saloia despejou-lhe na cara o resto d’água que ainda tinha no regador

e antes que o rei a chamasse
apresentou-se ao pai do parvo

senhor
peço perdão pelo que fiz a vosso filho
mas de bastardos a minha aldeia anda cheia
façamos as contas, meu senhor rei senhor

o rei, como cabe aos reis, era um homem bom
e por ser rei e um homem bom pediu perdão a serviçal

e por ser rei mandou
como cabe aos reis
fechar todas as sapatarias da cidade


elesbão
04/11/2012

Um comentário:


  1. UMA BEM HUMORADA VERSÃO DE CINDERELA À MODA LUSITANA.BEM URDIDA E BEM RESOLVIDA. PARABÉNS, POETA!

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