Caravanas é um disco de muitas
entradas, mantém a qualidade poética das músicas, uma constante na obra do
compositor, e ainda acrescenta uma raiva contida, medida, como no melhor da
poesia contemporânea. Da belíssima Tua cantiga, que abre o álbum, a Caravanas, que
o fecha, incluindo as duas regravações, a obra é um presente à sensibilidade
embutida desses tempos bicudos.
O compositor convida a sorrir por
dentro, chama atenção para aquele psiu, pontua que o poeta – a figura arquetípica
do poeta – hoje tem outra beatriz a cantar que não a da literatura tradicional,
reinventa a idade e duela com a juventude no que ela tem de mais belo ao mandar
às favas astros, sinopses e o escambau, sugere o encanto de la casualidad e a altura
dos vagabundos de picas enormes e sacos de granadas.
O vasto repertório bate na surdez
que vitima os que, virtuosos e ordeiros, sentem o pejo da nudez agressiva dos
torsos nus, os que não largam mulher e filhos – e, por óbvio, suas babás – para
as passeatas copacabanas e jardins (de Alá).
Ao apontar para a necessidade de
se manter fiel à canção, aponta para a percepção nítida de que são outros os
tempos da canção, permitindo que o ouvido atento, por sua vez, por sua voz,
perceba a síntese – ou o sincopado – da melhor obra publicada nesses últimos
anos.
(oswaldo martins)
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