Lúcia,
O desimitação histórica pra boi
dormir faz parte do novo livro que estou escrevendo, que vai se chamar
desimitações. Portanto faz parte de um projeto mais amplo. O livro se projeta
como um movimento de releitura poética da tradição literária não só nacional. A
seleção de poetas/poemas se estende desde Gregório a Carlito. De uns, gosto; de
outros, nem um pouco. Esse é da série que é em parte homenagem em parte crítica
malévola.
Tento com este poema traçar um
perfil de poetas de que gosto seja pela escolha temática seja pelas opções
formais. O p é poesia, portanto, p 1 poesia 1; p 2 poesia 2, p 3 poesia 3 e
assim por diante.
Em p 1 as referências são os poetas
de 22 ou que movem a sua tradição (bandeira explícito, nélson cavaquinho (ver a
indiferenciação entre o compositor e o poeta). cabral (tecendo a manhã) e gullar
(entre o ser e não ser da poesia) as referências se ligam ao não jorrar das
emoções, que se ligam controversamente à matéria bruta. Deixo o bem amado
oswald para as piadas, que se abrem no movimento dois para descontruir o algo
meio contraverso do p 1.
Em p 2 a mirada foi a
descontrução de oswald. A piada do carro e sua ligação com são paulo-dória o
apagador dos traços memorialísticos das vanguardas paulistas (grafite e pichação),
que fazem link com o nelson cavaquinho do poema 1. A piada como valor crítico.
Em p 3 murilo e drummond são os
poetas citados (bandeira passa de leve no decúbito dorsal do tragédia brasileira)
murilo na idade do serrote fala de uma paixão por uma mar de espanhola que
transforma na prostituta drummondiana nos versos seguintes (o link com bandeira
entra aqui) e desvia para a modernidade das luas e conhaques que botam a gente
comovido como o diabo, invertendo o sentido de que são os conhaques que se
comovem. Matéria bruta e o não jorrar de emoções.
Em p 4 a crítica malévola com os
do mimeógrafo e sua curadora heloisa. Crítica que é pertinente se dela salvamos
o paradoxo inicial não jorrar/matéria bruta, porque, após a venda dos carros
bebedores, cai-se no extremo oposto da má poesia praticada pelos yuppies dos
anos 90/2000, que é tema do último poema e a quem sinceramente penso em mandar
à puta que os pariu.
Não sei se o leitor vai penetrar
em todas as referências, mas a construção malévola pode dar o tom de que
necessito no grupo de poemas do desimitação e por si só criar a impressão de
que há alguma coisa da poética da resistência ao midiático, lugar específico no
qual o poético deve se dar.
(oswaldo martins)
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