O Fogo de
Henri Barbusse, editado pela Mundaréu, no Brasil, tem a virtude de pegar o
leitor aos poucos. A descrição da guerra, da crueza da guerra, vai aos poucos
se desenvolvendo até que da narrativa não se consegue esquecer e exige uma
leitura contínua até a última página.
No front da 1ª Grande Guerra, o homem está sozinho, abandonado;
contando com o imediatismo da sobrevivência, alguns elos humanos são feitos e
destruídos. Os generais, senhores da guerra e das nações, não se mostram em
nenhum momento e sua ausência se transforma na grande presença da inutilidade
dos eventos, que são a luta, a fome e a miséria de homens que se matam por um
naco de terra – que não pertencerá a eles.
Escrito no ano de 1916, O Fogo, além do infausto da guerra, traz duas
reflexões ao largo da narrativa. A primeira, sobre os alemães, permite que se
perceba a guerra, para acabar com todas as guerras, como um instrumento da
opressão que inevitavelmente levaria à 2ª Grande Guerra. A segunda, o processo
que reflete sobre a guerra dentro da guerra, quando a Rússia, ao se afastar das
lutas externas, se coloca internamente na luta contra os generais e reis que da
guerra até então não participavam. Serão derrotados, e Barbusse percebe as
possibilidades de um mundo que não evocasse as trincheiras abandonadas pelos
donos das nações.
Pouco importa se o prognóstico do
autor não corresponda ao que a história nos propôs. A atividade intelectual
deve se fazer sempre sobre o risco da reflexão ligada a seu tempo.
(oswaldo martins)
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