Como se
estivéssemos em palimpsesto de putas, de Elvira Vigna, tem a qualidade
de não se deixar cair em nenhum tipo de concessão ao sentimentalismo
emocionado, no entanto, se constrói a partir de um dilaceramento interno de seus
personagens, que beira o mais puro lirismo. A linguagem precisa, cortante, envolvente
para o leitor, é o tempo todo desconfigurada pela narradora ao, no ato de
contar, deixar entrever que a história que se conta não é a história que se
conta. Há um além que cinicamente vai sendo desmascarado pelo pensamento que de
forma elíptica vai se construindo.
As personagens são surpreendentes.
A construção em espiral – as irrealizações possíveis, o jogo de esconder-se de
si mesmo – vai se sucedendo numa
possibilidade única, numa temática única, que explode na temática que se
escondia sob os desacertos da narração. O palimpsesto – a forma machadiana
preferencial –, aqui vivenciado pelo não contar o que na verdade se conta,
apresenta a maestria de Elvira, em seu grau mais intenso.
Talvez na literatura brasileira
as putas – mas não é, e é, sobre elas que se escreve tenham tido a sua presença
narrada de forma tão lírica e humana. As putas do livro assumem um grau de
complexidade trágica. Presentes o tempo todo no romance, por sua ausência de
caracteres, assumem a máscara trágica que se revelará na cena da morte de
Cuíca. A partir desta estrutura, o romance retira as máscaras de seus atores e
os coloca nus frente a eles mesmos.
Como nas grandes tragédias, resta
ao leitor debater-se com o mundo derruído da contemporaneidade.
Ps – leiam com atenção como a
personagem Lurien é o oráculo que se salva.
(oswaldo martins)
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