quarta-feira, 6 de abril de 2016

sob o domínio de eros

para josé celso martinez

quando na praia de ipanema nos idos dos anos oitenta jogaram bolas de areia na mulher que desnudava os seios quando na praia de ipanema nos idos dos anos sessenta crucificaram leila por expor a barriga grávida de sonhos quando as jovens as senhoras voltaram a usar sutiã e se plastificaram nos idos dos anos noventa quando as vozes cerceavam o direito à trepada o direito à posse do próprio corpo quando os travestis foram e continuam sendo  assassinados nos aterros, nas glórias e arredores quando perseguidos dos anos sessenta levantam a voz para clamar pelo golpe que os catapulte ao cenário indecoroso do poder quando luluzinha recebe o santo nas assembleias de deus quando o clube do bolinha se arma de maldades adjetivas e proíbe os trans os hétero os homo de se manifestarem quando os neo nazi armam os dentes quando

é preciso ir à luta
é preciso despir os peitos
evocar os atributos da linguagem
é preciso erotizar o sexo
clamar por eros brômio baco
e resistir com o aço da utopias

para não se curvar aos discursos hegemônicos
para não se curvar à coerção da cultura
para não se curvar ante a naturalização da lei

para abrir os territórios livres
para abrir a anarquia dos desgovernados
e intuir que o presente se presentifica
no aluvião das ternuras dispersas
nos amores colhidos ao sabor dos desejos
como anna se entregou a amadeo
como verlaine à juventude de rimbaud
como as duas mulheres de espanha

quando lhes foi urgente o amor
quando lhes é urgente a vida


(oswaldo martins) 

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