A Baronesa, como era conhecida,
acabara de morrer, acompanhada por uma de suas antigas protegidas. Fora acompanhada
em seu calvário por toda a cidade condoída. A baronesa, pundoronosa nos últimos
tempos, peidava, na curta agonia de sua despedida e, entre dentes, baixinho, como
soía ser de bom tom para aqueles que deixam a vida, murmurava um sai diabo,
como se o cheiro do metano, que expelia pelo cu – tantas vezes usado – a livrasse
das lembranças que teimavam em lhe dar as graças de que fora senhora nos tempos
em que mantinha sua Casa.
A Baronesa, enquanto suava e
peidava, lembrava-se dos antigos clientes, das antigas princesas. Muitos dos
quais estavam presentes à sua agonia. O padre presidia a tudo pesaroso.
Acabariam as verbas doadas, com desprendimento e altivez, por aquela velha
senhora. O que seria do teto da paróquia, das roupas engomadas, das ceias de
natal, fartas de perus, rabanadas e baba de moça. O padre se interrogava,
enquanto a Baronesa morria, suando e peidando.
O quarto, com as amplas janelas
fechadas, protegendo a moribunda do frio que fazia, exalava o famoso cheiro, que
no passado fizera a algazarra das mocinhas, quando por acaso um dos clientes de
pregas soltas pontuava a trepada com os estrondos característicos dos coléricos
trovões do intestino. A Baronesa, com a lembrança dos tempos passados, ao mesmo
tempo em que abriu seu último sorriso, deu seu último suspiro e deitou pelo quarto,
como última lembrança, o característico eflúvio de quem morre em odor de
santidade.
(Oswaldo Martins)
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