Nos fim de tarde
livres de trabalho, gosto mesmo é de escurecer a sala de casa, colocar uma boa
música, uma dose generosa de uísque e me entregar ao espaço mágico que a
quietude permite. Uma mesma música pode ser ouvida, nestas condições, milhares
de vezes. Ouve-se o canto, a orquestração, a música, enfim. Num segundo
momento, ouve-se apenas, por exemplo, o violão; noutros, os instrumentos de
percussão. Se se ouvir uma dezena de vezes a mesma música as divisões ficam
inumeráveis. Uma delícia.
Hoje foi o dia
de ouvir, especificamente, duas músicas: uma música Moacyr Luz e Aldir Blanc.
Cachaça, árvore e bandeira. Homenagem ao grande e esquecido Carlos Cachaça.
Outra o saci de Guinga e Paulo César Pinheiro, na gravação primorosa de Guinga
e Francis Hime. Piano, violão e vozes estupendas.
A primeira me
leva para os tempos distantes de nós mesmos, cariocas ou adotados por essa
cidade – como é o meu caso – tempo em que era possível vestir o rosa da aurora
bordadeira! Se os sons trazem a sugestão de uma leve melancolia e a letra a
confirma, há, entretanto, um país imaginário que ainda está para se construir,
nas bases do que foi, mas que paradoxalmente houve apenas como anúncio do que
virá a ser.
A segunda me
leva também a tempos distantes, mais rurais, e traz uma estranheza muito
peculiar. Uma temática rural que rompe com sua própria base harmônica, quando
cria uma dissonância bastante acentuada e coloca este saci num entretempo que é
ao mesmo tempo pertinente ao passado e ao presente. As vozes de Guinga e
Francis Hime se casam, como se casam o violão de um e o piano de outro.
(oswaldo
martins)
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