terça-feira, 31 de julho de 2012

Pilulinha 23


Galileia, de Ronaldo Correia de Brito, editado pela Alfaguara e ganhador do prêmio Cidade de São Paulo, do ano de 2008, é um livro fantástico. A narrativa se desenvolve no sertão nordestino, com elementos típicos de nossa época – lap-tops, celulares e televisão – mas a eles se contrapõe um mundo extinto, feito de lendas, segredos e intrigas, ao fundo uma história do consumo e dos despeitos familiares.

Desde o patriarca até o narrador, a história obedece a um plano exato de criar e não desvendar as mazelas que se desgarram do romance e criam um espaço entranhado na experiência de nossas vidas. O autor parece sugerir que, embora o aspecto rural de nossa personalidade como país ainda subsista nas memórias coletivas, ou mesmo por esta subsistência, somos um povo de desgarrados; mal colocados nas cidades e deslocados do campo, não encontramos espaço que nos integre e crie a ilusão coletiva de um destino comum.

A questão da identidade na qual diversos estudiosos mergulharam está presente em Galileia, como uma faca afiada pronta para ferir. Tem, ainda, a virtude de não intentar as respostas e apresentar sem disfarces a esquizofrenia e o estado de atonia dos tempos atuais. Parecendo ser um livro sobre o sertão profundo que trazemos, é, na verdade, uma analise cruenta dos novos tempos.

(oswaldo martins)

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