Galileia,
de Ronaldo Correia de Brito, editado pela Alfaguara e ganhador do prêmio Cidade
de São Paulo, do ano de 2008, é um livro fantástico. A narrativa se desenvolve
no sertão nordestino, com elementos típicos de nossa época – lap-tops, celulares
e televisão – mas a eles se contrapõe um mundo extinto, feito de lendas, segredos
e intrigas, ao fundo uma história do consumo e dos despeitos familiares.
Desde o patriarca até o narrador,
a história obedece a um plano exato de criar e não desvendar as mazelas que se
desgarram do romance e criam um espaço entranhado na experiência de nossas
vidas. O autor parece sugerir que, embora o aspecto rural de nossa
personalidade como país ainda subsista nas memórias coletivas, ou mesmo por
esta subsistência, somos um povo de desgarrados; mal colocados nas cidades e
deslocados do campo, não encontramos espaço que nos integre e crie a ilusão
coletiva de um destino comum.
A questão da identidade na qual
diversos estudiosos mergulharam está presente em Galileia, como uma faca afiada
pronta para ferir. Tem, ainda, a virtude de não intentar as respostas e
apresentar sem disfarces a esquizofrenia e o estado de atonia dos tempos
atuais. Parecendo ser um livro sobre o sertão profundo que trazemos, é, na
verdade, uma analise cruenta dos novos tempos.
(oswaldo martins)
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