terça-feira, 8 de dezembro de 2020

O tempo - Denise Levertov

 

Os velhos degraus de madeira da porta da frente

onde eu estava sentada naquela manhã de outono

quando você veio descendo as escadas, acabando de acordar,

e minha alegria em contemplá-lo (emergindo

num dia dourado —

o orvalho ainda congelado)

puxando-me pelos meus pés para te dizer

o quanto eu te amava:

aqueles degraus de madeira

se foram agora, apodrecidos

trocados por granito,

duros, cinzentos e elegantes.

Os velhos degraus vivem

somente em mim:

meus pés e minhas coxas

se lembram deles, e minhas mãos

ainda sentem suas lascas.

 

Tudo o mais sobre e em torno daquela casa

traz lembranças dos outros — do casamento

de meu filho. E os degraus provocam a mesma coisa:

eu me lembro

de me sentar ali com minha amiga e seu filhinho que morreu,

ou será que foi o segundo, que vive e está bem?

E me sentar ali ‘na minha vida’,

frequentemente sozinha ou com meu marido.

Ainda assim naquele instante,

seu alegre, destemido, juvenil, ‘eu também te amo,’

a calma sem ser quebrada por nenhum passarinho,

nenhum grilo, folhas douradas

caindo, girando, em silêncio sem

qualquer brisa que as levassem

são o que ata

minha cabeça e meu corpo àquelas tábuas de madeira

que um dia foram cálidas, veneráveis, e agora

esperam, em um lugar qualquer, para ser queimadas.

 

Tradução de André Caramuru Aubert.

 

A TIME PAST

 

The old wooden steps to the front door

where I was sitting that fall morning

when you came downstairs, just awake,

and my joy at sight of you (emerging

into golden day —

the dew almost frost)

pulled me to my feet to tell you

how much I loved you:

those wooden steps

are gone now, decayed

replaced with granite,

hard, gray, and handsome.

The old steps live

only in me:

my feet and thighs

remember them, and my hands

still feel their splinters.

 

Everything else about and around that house

brings memories of others — of marriage

of my son. And the steps do too: I recall

sitting there with my friend and her little son who died,

or was it the second one who lives and thrives?

And sitting there ‘in my life,’ often, alone or with my husband.

Yet that one instant,

your cheerful, unafraid, youthful, ‘I love you too,’

the quiet broken by no bird, no cricket, gold leaves

spinning in silence down without

any breeze to blow them,

is what twines itself

in my head and body across those slabs of wood

that were warm, ancient, and now

wait somewhere to be burnt.

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