terça-feira, 15 de dezembro de 2020

A leitura e o poema de Al Berto - febre


 

febre

 

sopra um vento pelo peito do mareante – vento

cinzento capaz de apagar os gestos que restam e

de limpar os passos incertos pelas ruas do cais

 

vento

um vento que te sacode as veias os tendões

faz vibrar os músculos e a mastreação – como a árvore

que se desprende das entranhas do mar

 

corre

corre um vento pelas fissuras da pele – vento

de pó enferrujado abrindo feridas nos animais vivos

colados à memória onde

uma serpente mergulhou no sangue e

desata a fulgurar

 

sopra um vento pelo peito do mareante

desperta a florescência pálida do plâncton – varre

a noite e lava as mãos dos condenados à morte

 

corre um vento

vento de febre – sismo de orquídeas que acalma

quando acendes a luz e abres as asas

vibras e

levantas voo

 

Al Berto


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