sábado, 11 de abril de 2020

CORONA



Da mão o outono me come sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar: 
o tempo retorna à casca.

No espelho é domingo, 
no sonho se dorme, 
a boca não mente. 

Meu olho desce ao sexo da amada: 
olhamo-nos, 
dizemo-nos o obscuro, 
amamo-nos como ópio e memória, 
dormimos como vinho nas conchas, 
como o mar no raio sangrento da lua.

Entrelaçados à janela, olham-nos da rua: 
já é tempo de saber! 
Tempo da pedra dispor-se a florescer, 
de um coração palpitar pelo inquieto,

É tempo do tempo ser.. É tempo.

(Paul Celan tradução: Flávio Klothe)

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