para horácio matela
as
moças que saem de casa
as
moças que se postam nos bares da cidade
nas
ruas cearás
que
antes beberam no mangue
e
foram do beliscão e da piscadela senhoras
enfrentaram
os vidigais
os
madrigais eloquentes do senhor poeta casimiro de abreu
os
lufa-lufa dos passeios públicos
as
moças que nas glórias
as
moças que nas avenidas copacabanas
nos
inferninhos
desfilam
peitos e bundas e coxas e a cabeleira revolta
que
lhes esconde a barba incipiente
as
que se dão aos beijos no meio dos concertos
as
que se dão ao amasso nas poltronas nos divãs
as
que se dão revoltosas e lúgubres nos mercados
as
que se dão macias e tesas da própria femeeza
e se
lambem inteiras e gozam libertas
belas,
essas moças
impedem
que se lhes chamem senhoras
impedem
que se lhes chamem madamas
impedem
que se lhes chamem recatadas
pois
a faca que usam é peixeira
pois
a faca que usam sabe a navalha
pois
a faca que usam
afasta
de si os talheres de prata
a
faca de mesa
a
faca abastada com que se vendem
as
mulheres do lar
para
os senhores de baraço e cutelo
para
os industriais e seus capachos
para
os coronéis e seus jagunços
que
as vampirizam
que
as mortificam
com
as duras leis da obediência
com
as canalhas de seda
com
a improbidade
dos
golpes
e
o charuto dos que se pensam acesos
e
necessitam – ó usurpadores,
da
libido do poder
da
libido dos revolveres
e
dos altos cargos
para,
então, se porem sobre a mesa
e depositarem na carne dos outros
as
suas tristes figuras
para,
então, se porem sobre a mesa
e,
calhordas que são,
se
regozijarem na caça
no
acossamento
na
delação autoimune
como
uma doença que há de comer-lhes
o
próprio fígado sob o fedor da podridão
(oswaldo
martins)
Nenhum comentário:
Postar um comentário