sexta-feira, 11 de junho de 2010

gentis descortesias

Gregório de Mattos, em um de seus poemas mais famosos, cria um belo paradoxo - ligado ao topus do Carpe Diem - em que diz que o ar indoo pela madrugada mexe com gentil descortesia as tranças da mulher que dorme. O soneto pode-se ler abaixo.

Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:

Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.

Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.

(Gregório de Mattos)

Um comentário:

  1. Oswaldo, que coisa maravilhosa este poema. Ele me levou ao To His Coy Mistress, do Andrew Marvell, disponível em tradução para o português, pelo Augusto de Campos.

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