paixão. até o último minuto. ato de
resistência e fé. afastamento da noite. percepção crítica e convívio. mesmo
quando o convívio tende ao fim, à aniquilação, o cristo de minha paixão é
reativo, não aceita o destino a que os homens o jogaram, é mais um filho de um
beliscão e de uma piscadela, um homem que resiste à morte e que, mesmo morto,
ainda percebe o ardor do corpo das madalenas. um cristo contrário ao luto,
afirmador da vida, um cristo cuja paixão não se deixa enlevar senão pelo signo do
homem apaixonado, até o limite de suas forças. um deus, se deus, fodedor.
paixão. até o limite de mim
mesmo, até o limite da resistência, que reage às torturas, ao ouvir os gritos
desgrenhados das mulheres de jerusalém, os gritos desesperados dos amigos, os
gritos dos barbarizados da humanidade; paixão que reage ao grito da barbárie e do
medo, com o corpo de sangue, com o corpo do tesão e a nudez física dos amores,
tão vastos quanto a possibilidade mesma do amor.
paixão, quando o poema se faz no
limite da compreensão, da sintaxe
paixão, quando os desenhos de
roberto se fazem abstração e concretude
paixão, quando o sentido do pau
de corda se faz nordestino
paixão, quando mandamos à meada
da merda o horror de hyeronimus bosch
paixão, quando, enfim,
celebramos, mesmo torturados e vilipendiados, o nosso quinhão de vida.
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