quinta-feira, 25 de outubro de 2018

paixão


paixão. até o último minuto. ato de resistência e fé. afastamento da noite. percepção crítica e convívio. mesmo quando o convívio tende ao fim, à aniquilação, o cristo de minha paixão é reativo, não aceita o destino a que os homens o jogaram, é mais um filho de um beliscão e de uma piscadela, um homem que resiste à morte e que, mesmo morto, ainda percebe o ardor do corpo das madalenas. um cristo contrário ao luto, afirmador da vida, um cristo cuja paixão não se deixa enlevar senão pelo signo do homem apaixonado, até o limite de suas forças. um deus, se deus, fodedor.
paixão. até o limite de mim mesmo, até o limite da resistência, que reage às torturas, ao ouvir os gritos desgrenhados das mulheres de jerusalém, os gritos desesperados dos amigos, os gritos dos barbarizados da humanidade; paixão que reage ao grito da barbárie e do medo, com o corpo de sangue, com o corpo do tesão e a nudez física dos amores, tão vastos quanto a possibilidade mesma do amor.
paixão, quando o poema se faz no limite da compreensão, da sintaxe
paixão, quando os desenhos de roberto se fazem abstração e concretude
paixão, quando o sentido do pau de corda se faz nordestino
paixão, quando mandamos à meada da merda o horror de hyeronimus bosch
paixão, quando, enfim, celebramos, mesmo torturados e vilipendiados, o nosso quinhão de vida.

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